Intervenção nas Américas acabou, diz Kerry
Em discurso na sede da OEA, secretário de Estado dos EUA diz que a era da Doutrina Monroe não existe mais
Formulada no século 19 pelo então presidente americano James Monroe, doutrina pedia 'América para os americanos'
RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON
O
secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou ontem que a "era da
Doutrina Monroe acabou" e que a relação que os EUA buscam não é mais
sobre "como e quando vamos intervir em outros Estados", mas que todos os
países americanos se vejam "como iguais, compartilhando
responsabilidades e cooperando na segurança".
O
discurso foi feito na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA),
e o tema era a política americana para o hemisfério ocidental.
A fala já tinha sido adiada uma vez em razão do conflito na Síria.
Em vez de intervenções, o secretário de Estado disse que os vizinhos hoje fazem "decisões como parceiros".
A
chamada Doutrina Monroe, lançada pelo presidente James Monroe em 1823,
defendia a "América para os americanos", com intuito de impedir qualquer
nova colonização europeia, e que, na prática, promovia a hegemonia dos
EUA na região.
"Unilateralmente,
os EUA se declararam protetores da região, exercendo nossa autoridade
para se opor à influência europeia. Sucessivamente, vários presidentes
americanos seguiram essa ideia. Mas essa era acabou".
No
longo discurso, Kerry não fez menção à quebra de confiança causada
pelas denúncias de espionagem no Brasil. Nem às mais controversas
políticas americanas na região, como a Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) ou a guerra às drogas. A Venezuela foi mencionada apenas uma
vez, pelos "tropeços" em sua democracia.
Mas
quatro parágrafos no discurso se centraram em Cuba --mais que todas as
citações a Brasil, México e Argentina juntas. "O governo Obama tentou um
novo começo com Cuba, com mais americanos visitando Havana e mais
dinheiro sendo enviado para lá", disse.
Kerry
falou das possibilidades de crescimento econômico com acordos
comerciais da Aliança do Pacífico (da qual fazem parte Chile, Peru e
México) e de recentes acordos com Colômbia e Panamá.
Ele
dedicou um bom tempo a falar das oportunidades no setor energético. "Um
mercado de US$ 6 trilhões com 4 bilhões de usuários", disse.
"Nos
anos 90, a renda de todos os setores dos EUA subiu graças à revolução
tecnológica dos computadores pessoais e da internet. O mercado
energético é seis vezes maior que esse", e elencou as possibilidades com
biomassa no Brasil e de gás de xisto nos EUA e na Argentina.
Assim como já fez em Brasília, Kerry citou outra vez Paulo Coelho, "um dos escritores mais lidos no mundo".
"Quando nós menos esperamos, a vida nos coloca um desafio para testar nossa coragem e nossa vontade de mudar". Kerry emendou:
"Teremos a coragem das escolhas duras e vontade de mudar?".
Nenhum comentário:
Postar um comentário