China anuncia reformas e foca mercado
Detalhes são vagos, mas incentivo a consumo, inserção da população rural e abertura econômica são pontos-chave
Meta é atingir objetivos de cúpula até 2020; interação entre papel do Estado e do setor privado será calibrada
RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON
A
terceira plenária do 18º Congresso do Partido Comunista da China
terminou ontem com o anúncio de reformas econômicas e sociais
"aprofundadas" que darão papel "decisivo" à iniciativa privada e ao
mercado, segundo a agência estatal Xinhua.
As
decisões do Comitê Central do partido indicam vitória dos reformistas
liberais. Mas são vagas, como de costume, sobre mudanças concretas a
serem feitas pela gestão do presidente Xi Jinping.
Em
comunicado intitulado "Temas de maior importância que sofrerão reformas
profundas e abrangentes", a agência lista 15 prioridades.
Estão
incluídos aí a transformação do papel do governo, um sistema de mercado
moderno, a unificação do desenvolvimento rural e urbano, a abertura
econômica, a criação de uma "cultura da inovação" e o "respeito à lei".
A data para atingir os objetivos das reformas é 2020.
O
texto da agência fala que a reforma econômica definirá uma relação
própria entre o papel do governo e o do mercado, e que "os camponeses
devem ter participação igual no processo de modernização e dividir seus
frutos". Espera-se que o PIB chinês cresça 7,6% em 2013.
Nas
duas primeiras plenárias, que reúnem os 205 membros do Comitê Central
do Partido, o presidente Xi e o premiê Li Keqiang citaram a necessidade
de liberalizar o sistema financeiro e responder à desaceleração causada
pela queda da demanda das economias maduras e pela excessiva dependência
dos investimentos estatais.
Os
quatro grandes bancos estatais do país têm que fazer empréstimos
bilionários a governos locais que investem pesadamente em infraestrutura
para garantir o crescimento exigido pelo partido.
Pequenos
empresários, sem poder competir com os maiores credores, acabam se
amparando em um sistema de bancos clandestinos e populares, conhecido
como "shadow banking", sobretudo na costa leste e sul do país.
Com
poucas opções de investimento, os chineses acabam direcionando suas
economias ao mercado imobiliário, criando bolhas regionais.
Além
disso, sem sistema universal de aposentadorias e com salários baixos,
poupam muito e consomem menos do que poderiam, deixando 50% da economia
do país depender dos investimentos públicos em infraestrutura.
Como
parte da arrecadação de prefeituras vem da venda de terrenos,
camponeses são despejados facilmente de subúrbios rurais das grandes
cidades, nas quais o investimento pesado criou um padrão de vida muito
distante daquele da população rural, que ainda perfaz 50% do país --ou
670 milhões de pessoas.
Com
metáforas caras aos chineses, o comunicado diz que o povo deve avaliar o
uso do poder pelo governo: "O poder precisa operar sob o sol e ficar
dentro de uma gaiola".
Também
foi anunciada ontem a criação de um Conselho de Segurança Nacional --no
texto original, os caracteres do novo organismo são os mesmos que
designam seu homônimo americano.
Link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/138704-china-anuncia-reformas-e-foca-mercado.shtml
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