Indústria brasileira propõe firmar acordo de livre-comércio com EUA
Perda de competitividade e sensação de isolamento em cadeia global levam setor a mudar posição
Primeiro pedido de negociação desde o colapso da Alca, em 2003, reflete o avanço do deficit comercial
PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO
Pressionada
pela perda de competitividade e pela queda na exportação de
manufaturados, a indústria brasileira está defendendo um acordo de
livre-comércio com os EUA.
Ontem,
em discurso para 200 empresários americanos em Denver (EUA), o
presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade,
afirmou que o Brasil deveria fechar um acordo de livre-comércio com os
EUA e deixar em segundo plano o Mercosul para avançar em outros tratados
importantes.
"Defendemos um acordo com os EUA, que compram principalmente manufaturados", disse à Folha Andrade.
Foi a primeira vez desde o enterro da Alca, em 2003, que a indústria discutiu a abertura de mercado com os EUA.
Até setores mais protecionistas, como o de eletroeletrônicos, defendem o acordo.
"Mudamos
o posicionamento. Há dez anos éramos refratários, e havia um açodamento
para fechar um tratado", disse Humberto Barbato, presidente da
associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.
"Agora
estamos isolados, o Brasil está fora das cadeias de valor, daqui a
pouco estaremos parecidos com países da antiga Cortina de Ferro."
SEM PREVISÃO
Procurado,
o Ministério do Desenvolvimento limitou-se a dizer que "não há
discussão em curso sobre essa questão". "O governo está focado na troca
de ofertas com os europeus para um futuro acordo de livre comércio
Mercosul-União Europeia", diz a nota.
Os
EUA são o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da China. Mas,
enquanto o Brasil exporta essencialmente commodities à China, vende em
grande parte produtos manufaturados e semimanufaturados para os EUA.
Entre
2000 e 2008, o Brasil manteve superavit comercial com os EUA de quase
US$ 10 bilhões por ano. Desde 2008, porém, o país tem deficit (foram US$
5,6 bilhões em 2012).
O
novo posicionamento da indústria vem do deficit em manufaturados (a
Associação de Comércio Exterior do Brasil projeta US$ 105 bilhões neste
ano), da queda no ritmo de exportações e da primarização da pauta.
Além
disso, o Brasil sofre cada vez mais concorrência da China na venda de
manufaturados no Mercosul. E, como o Mercosul fechou só três acordos
comerciais, o país pode ficar mais isolado.
Em
setembro, a CNI levou um grupo de 30 empresários aos EUA e propôs
reabrir as negociações comerciais. Mas o timing, após revelações de
espionagem pelo governo dos EUA, foi infeliz.
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