Jornal do Terra
Dilma inaugura porto em Cuba de olho em exportações para EUA
· BBCBrasil.com
Os
40 quilômetros da estrada Panamericana que ligam a capital Havana ao
porto de Mariel parecem sinalizar o caminho das reformas em Cuba. A via
costeia o litoral norte da ilha. Logo após deixar Havana, a estrada
passa à esquerda da Marina Hemingway, com suas casas luxuosas e modernas
instalações náuticas - que abrigam pescadores profissionais de todo o
mundo durante o campeonato de pesca ao marlim, ou aguja, como se fala na
ilha.
Mas
o simbolismo é forte no regime de Raúl Castro. Do outro lado da
estrada, como se estivesse fazendo um contraponto à marina
"capitalista", está a escola do Partido Comunista Cubano.
A
estrada segue plana, com um pavimento bastante razoável. Velhos Dodges
americanos e Ladas soviéticos trafegam ao lado de carros chineses e
franceses, que ainda são minoria apesar da autorização recente do
governo que permite a livre negociação de automóveis.
A
Elam, a faculdade latino-americana de medicina, que acolhe centenas de
alunos brasileiros anualmente, surge do lado direito da estrada. Seus
muros marcam o que pode vir a ser a fronteira física do socialismo
cubano e sua mais recente tentativa de modernização econômica.
A
partir da Elam, começa a área de 400 quilômetros quadrados que abrigará
no futuro a "zona de desenvolvimento especial" de Cuba, uma zona franca
e industrial para a qual o governo pretende atrair, com condições
favoráveis, indústrias estrangeiras.
Lá
deve vigorar um sistema diferente do resto da ilha, onde empresas terão
poucas restrições para contratar, contarão com isenção de impostos e
não serão obrigadas a se associar com companhias estatais. Mas por
enquanto o que se vê na área é muito mato intercalado com algumas
plantações, umas poucas casas e praias paradisíacas.
Na
entrada do vilarejo de Mariel não há como não notar a fumaça de
chaminés de um primeiro - e pequeno - núcleo de indústrias cubanas. A
velha fábrica de cimento, que por décadas foi a maior indústria da
região, se destaca com seus grandes edifícios, galpões e um termina
marítimo. Logo adiante, as quatro grandes gruas do novíssimo terminal de
contêineres se destacam sobre o porto de Mariel.
É
este caminho que a presidente brasileira percorre nesta segunda-feira
para inaugurar a primeira fase do terminal portuário, construído em sua
maior parte pela brasileira Odebrecht por meio de um financiamento de
US$ 957 milhões do Bando Nacional do Desenvolvimento (BNDES).
Segundo
Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos
Internacionais da Unesp, desde o governo Lula, o Brasil tenta se tornar o
segundo maior parceiro comercial de Havana depois da Venezuela.
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De
acordo com ele, o interesse maior do governo cubano no Brasil está em
sua capacidade de realizar grandes investimentos na área industrial. "A
capacidade da Venezuela é energética, ela não tem capacidade de fazer
essas obras", disse Ayerbe. "Essa capacidade brasileira se materializa
no porto de Mariel".
Interesse brasileiro
O porto de Mariel já foi uma antiga base de submarinos e também a porta de entrada de ogivas nucleares do que nos tempos da Gerra Fria ficou conhecido como a crise dos mísseis em 1962. Já nos anos de 1980, voltou a atrair a atração do mundo por ser a porta de saída de mais de 120 mil cubanos, os chamados "marielitos", que emigraram em balsas para os EUA.
O porto de Mariel já foi uma antiga base de submarinos e também a porta de entrada de ogivas nucleares do que nos tempos da Gerra Fria ficou conhecido como a crise dos mísseis em 1962. Já nos anos de 1980, voltou a atrair a atração do mundo por ser a porta de saída de mais de 120 mil cubanos, os chamados "marielitos", que emigraram em balsas para os EUA.
De
grande profundidade, ele poderá receber navios gigantes, capacidade que
poucos portos da região têm, inclusive na costa americana. Ele é
modernizado no momento em que ocorrem também as obras de ampliação do
canal do Panamá.
Após
a reforma, o canal será a rota de passagem de navios "pós-panamax", com
três vezes mais capacidade de levar contêineres que as embarcações que
trafegam pelo local atualmente.
"Boa
parte do comércio da Ásia para a costa leste dos Estados Unidos passa
pelo canal do Panamá. Essa área (do mar do Caribe) vai ficar muito
dinâmica, por isso quase todos os países da região estão reformando seus
portos", diz Ayerbe.
Porém,
diferente das nações vizinhas, Cuba não pode se aproveitar das
oportunidades comerciais relacionadas ao comércio com a costa leste
americana devido ao embargo promovido por Washington.
Por
isso, o Brasil vê o investimento no porto como uma aposta futura no fim
do embargo. A ideia é instalar indústrias nacionais (brasileiras) na
zona franca de Cuba para produzir aproveitando-se dos incentivos fiscais
e flexibilidade para a contratação da mão de obra cubana altamente
qualificada.
Clique no link para iniciar o vídeoCuba faz 'recauchutagem' antes de chegada de Dilma
Dessa forma, o Brasil teria um posto avançado para exportar inicialmente
para a América Central e depois eventualmente para os Estados Unidos,
segundo Thomaz Zanotto, diretor do departamento de relações
internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do
Estados de São Paulo (Fiesp).
A
opção por investir em Cuba, em vez de em outro país caribenho, se dá
exatamente pelo isolamento de Havana - onde o Brasil não sofre com a
concorrência americana.
Por
enquanto, as duas nações ainda discutem que tipo de empresas
brasileiras se instalariam na zona franca cubana. As negociações apontam
para indústrias de alta tecnologia, que tirariam proveito da
qualificação dos trabalhadores cubanos. Umas das primeiras opções é a
indústria farmacêutica.
Críticas
As principais críticas ao investimento no porto de Mariel partem de partidos opositores - como o PSDB, que se baseia no fato de que o governo brasileiro investe mais em Mariel do que nos portos nacionais.
As principais críticas ao investimento no porto de Mariel partem de partidos opositores - como o PSDB, que se baseia no fato de que o governo brasileiro investe mais em Mariel do que nos portos nacionais.
Os
opositores acusam o governo Dilma Rousseff de direcionar os
investimentos a Cuba devido a um alinhamento ideológico com Havana.
Segundo
Zanotto, a crítica "não procede", pois "cada projeto é um projeto". Ou
seja, o eventual não investimento em Cuba não necessariamente levaria o
dinheiro aos portos do Brasil, onde fatores como restrições ambientais
estariam dificultando a agilização de projetos.
"O Brasil é gigantesco mas sofre com um apagão de projetos", diz Zanotto.
Outra
crítica parte do próprio empresariado. Eles desconfiam da capacidade do
governo cubano de honrar sua divida com o Brasil. Contudo, segundo
Zanotto, as garantias estariam relacionadas ao próprio faturamento do
porto em dólares.
Inauguração
Dilma Rousseff e o presidente Raúl Castro devem inaugurar a primeira etapa da construção do porto de Mariel nesta segunda-feira.
Dilma Rousseff e o presidente Raúl Castro devem inaugurar a primeira etapa da construção do porto de Mariel nesta segunda-feira.
Participarão
da cerimônia chefes de Estado de países como Argentina, Venezuela,
Jamaica e Bolívia. Em seguida, Dilma e Raúl seguem para um encontro
privado em Havana.
Excelente post. Já está marcado nos meus favoritos. Adorei este site ao ler vi que era o que eu estava procurando, Estou ansiosa para ler seu próximo artigo, parabéns.
ResponderExcluirNatalia e muito Swing um abraço