PREOCUPANTE.
Um mundo em que a máquina dispensa o trabalho do homem, criando um
mundo antagônico entre ricos e despossuídos, com as tecnologias
inteligentes.
A
inteligência artificial, está pronta para substituir o trabalho do
homem, nossos Frankensteins, criando um desequilíbrio maior ainda entre
ricos e despossuídos, ameaçando o bem-estar humano em que se aumenta a
desigualdade na distribuição de rendas em que os mais ricos tornam-se
indiferentes quanto ao destino do resto, definhando as oportunidades dos
jovens.
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Internacional
Do Valor Econômico
Por Martin Wolf
Ao
esfregar sua lâmpada, Aladim conseguia comandar um ser inteligente
capaz de atender todos seus desejos. Seu gênio era um espírito. O sonho
de servos com inteligência artificial e grande poder também inclui seres
físicos. Agora, isso vem se tornando realidade, construída à base de
silício, metal e plástico. Mas seria isso sonho ou pesadelo? Máquinas
inteligentes serão benéficas ou serão monstros no estilo Frankenstein?
Essa é a questão1 levantada
em "The Second Machine Age" (a segunda era da máquina, em inglês), novo
livro de Erik Brynjolfsson e Andrew McAfee, do Massachusetts Institute
of Technology (MIT). A obra prevê que vamos experimentar "dois dos
eventos mais surpreendentes da história humana: a criação de uma
verdadeira inteligência das máquinas e a conexão de todos os humanos via
uma rede digital comum, transformando a economia do planeta."
"Inovadores,
empreendedores, cientistas, curiosos e muitos outros maníacos por
tecnologia vão se aproveitar dessa cornucópia para desenvolver
tecnologias que nos assombrem, nos deleitem e que trabalhem para nós".
Os
autores dizem que depois de meio século de avanços, estamos vendo
saltos na inteligência artificial. À medida que a capacidade aumenta
exponencialmente, os computadores começam a assumir tarefas que há
poucos anos eram consideradas fora de alcance. Em breve, preveem, a
inteligência artificial estará por todos os lados. Eles apresentam como
paralelo a história do inventor do jogo de xadrez, que pediu para ser
recompensado com um grão de arroz pela primeira casa do tabuleiro, dois
pela segunda, quatro pela terceira e assim por diante. A recompensa,
factível na primeira metade do tabuleiro, chegava a proporções inviáveis
na segunda. Nossas benefícios cresceriam de forma similar.
Ainda
assim, para parafrasear a célebre ironia sobre computadores, de Robert
Solow, economista do MIT vencedor do Nobel, vemos a tecnologia da
informação por todos os lados, a não ser nas estatísticas de
produtividade2. As tendências vistas na produção por hora nos Estados
Unidos são bastante medíocres. De fato, após um aumento encorajador nos
anos 90 e início dos 2000, as tendências inverteram-se. O desempenho
recente em outras economias de alta renda é ainda pior.
Uma
possível explicação é que o impacto dessas tecnologias foi demasiado
alardeado. Não é surpresa que os autores discordem. Na verdade,
argumentam que as possibilidades são ilimitadas: "A digitalização torna
disponível bases gigantescas de dados relevantes para quase qualquer
situação, e essa informação pode ser reproduzida e reutilizada
infinitamente".
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Se
é assim, então, porque os aumentos de produção são tão modestos? As
respostas oferecidas são: a grande quantidade de serviços baratos ou
gratuitos (Skype ou Wikipedia); a escala do entretenimento do tipo
faça-você-mesmo (Facebook); e o fato de todos esses novos produtos ou
serviços não serem levados em conta integralmente. Antes de junho de
2007, um iPhone era algo fora do alcance até para o mais rico dos
homens. Seu preço era infinito. A queda de um preço infinito para um
preço definido não está refletida em índices de preços. O "superávit do
consumidor" nos produtos e serviços digitais - a diferença entre o preço
real e o que os consumidores estariam dispostos a pagar - muitas vezes é
imenso. Por fim, os cálculos do Produto Interno Bruto (PIB) também
subestimam o investimento em ativos intangíveis.
Parece
plausível que a proliferação de novos aparelhos e a ascensão da
economia digital, com seus baixos custos marginais, tenham exercido um
efeito muito maior no bem-estar e até no PIB do que as mensurações
atuais indicam.
Ainda
assim, persistem receios. A era da informação coincidiu - e
necessariamente, em certa medida, provocou - tendências econômicas
adversas: a estagnação da mediana da renda real; os aumentos da
desigualdade na renda do trabalho e na da distribuição de renda entre o
trabalho e o capital; e o crescimento do desemprego de longo prazo.
Estas
são algumas das explicações: o alto crescimento da produtividade na
indústria; as mudanças técnicas relacionadas à capacitação; a ascensão
de mercados internacionais em que os vencedores ficam com quase todo o
prêmio; e o papel do rentismo, em especial a partir da propriedade
intelectual. Pense na diferença entre o custo de desenvolver o algoritmo
de busca do Google e seu valor. A globalização e a liberalização
financeira também estão em ação, ambas alimentadas pelas novas
tecnologias.
Acima
de tudo, insiste o livro, isso é o apenas o começo. Grande parte do
trabalho cerebral rotineiro vai ser computadorizado, como aconteceu com
tarefas administrativas. Empregos de renda média poderiam ficar ainda
mais fragilizados. O cenário resultante poderia ser marcado por rendas
ainda mais polarizadas, com um pequeno grupo de bem-sucedidos no topo e
outro, amplamente maior, de pessoas em dificuldade no degrau mais baixo.
Em 2012, por exemplo, a faixa formada pelo 1% dos americanos mais ricos
ganhou 22% de toda a renda, mais que o dobro do que nos anos 80.
Há
bons motivos pelos quais as pessoas deveriam ficar preocupadas com
isso. O primeiro é que a vida dos que estão na faixa mais baixa poderia
piorar: os autores ressaltam que a expectativa de vida média da mulher
americana branca sem diploma do ensino médio caiu cinco anos entre 1990 e
2008. Segundo, quando a renda torna-se muito desigual, as oportunidades
dos jovens definham. Terceiro, os mais ricos tornam-se indiferentes
quanto ao destino do resto. Por fim, surge uma imensa desigualdade de
poder, tornado o ideal de cidadania democrática uma piada.
Teremos
grandes desafios, tanto atuais como futuros, para poder assegurar que
as novas máquinas não se tornem nossos Frankensteins. Esses desafios têm
grandes implicações para as políticas públicas de direitos de
propriedade, de ensino, de tributação e para outras ações governamentais
com o propósito de promover o bem-estar humano. Vou abordar essas
questões controversas na próxima semana. (Tradução de Sabino Ahumada)
Martin Wolf é editor e principal analista econômico do FT
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