ANTONIO DELFIM NETTO
Mercosul
Se
tomarmos distância e tentarmos discernir quais os fenômenos que
caracterizam o momento em que vi- vemos, talvez possamos apontar seis
deles:
1.
A evolução do clima, que, em parte, é resultado da dinâmica do sistema
planetário (sobre a qual pouco podemos fazer) e, em parte, é resultado
da ação do homem na apropriação da natureza finita para atender ao
crescimento da população mundial.
2.
Uma globalização do sistema produtivo, estimulada pela "mundialização"
financeira gestada pela livre movimentação dos capitais e pela
facilidade de informação. Nela, as nações politicamente independentes
são, cada vez mais, peças importantes, mas dispensáveis, na produção
global.
3.
O resultado mais deplorável dessa dominância financeira foi uma
exacerbada concentração de renda. A solução da grande recessão de 2007
mostrou que, em larga medida, o mercado financeiro apropriou-se do
sistema político, com graves consequências: os patifes que promoveram o
assalto ao cidadão incauto (sob a proteção dos olhos complacentes dos
governos) estão muito bem, enquanto mais de 40 milhões de honestos
trabalhadores de todo o mundo ainda estão sem emprego. A falta de uma
resposta política eficiente e rápida para esse problema é uma das mais
sérias ameaças à democracia.
4.
Houve, em compensação, um claro avanço das relações entre a organização
econômica (o "mercado"), que o homem foi encontrando num processo de
seleção histórica para satisfazer objetivos não inteiramente
compatíveis, e o processo democrático (a "urna"), o que reduziu a
angústia da procura de soluções mágicas para resolvê-los.
5.
Um rápido processo de urbanização, que acarreta profundas consequências
ecológicas no comportamento humano e cria um ambiente vulnerável.
6.
E, finalmente, a emergência de uma forma revolucionária de interação
popular paralela à da representação democrática clássica. Ela tornou-se
possível pelos rápidos e incontroláveis avanços da tecnologia de
informação. Ainda estamos longe de entender suas consequências práticas,
a longo prazo, nas relações entre o cidadão e o Estado (que tenta
controlar a tecnologia).
Como
resulta claro desses fenômenos, nenhum grupo de pequenos países pode
enfrentá-los. Se, por um lado, é preciso uma coordenação mundial, por
outro, é necessário o reconhecimento de cada um, por mais importante que
pense ser, de que é apenas uma engrenagem pequena ou grande que, ou se
integra no processo produtivo global, ou será desembreado dele! Esse
será, por exemplo, o destino dos países do Mercosul se não entenderem o
processo...
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