Propina do cartel pode chegar a R$ 197 mi
Em depoimento sigiloso à PF, delator do esquema afirma que suborno variava de 5% a 9% do valor dos contratos
Acusado de receber dinheiro, secretário de Alckmin nega acusação e afirma que relato de conversa é mentiroso
FLÁVIO FERREIRA MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO
A
propina paga pelo cartel de empresas acusado de fraudar licitações do
Metrô e da CPTM pode chegar a R$ 197 milhões, segundo depoimento
sigiloso da testemunha-chave da investigação, o ex-diretor da
multinacional Siemens Everton Rheinheimer.
A Folha
obteve a íntegra do depoimento que o executivo deu à Polícia Federal,
em que ele aponta três secretários do governo Geraldo Alckmin (PSDB)
como destinatários de propina e detalha percentuais pagos pelo cartel.
Segundo
ele, a Siemens e seus parceiros pagaram 9% para fornecer trens à linha 5
do Metrô em 2000, um contrato de R$ 1,57 bilhão, em valores
atualizados. Se o percentual estiver correto, a propina paga só nesse
caso teria alcançado R$ 141 milhões.
O
executivo disse à PF que informou esses percentuais na época ao então
deputado estadual Rodrigo Garcia (DEM), presidente da Comissão de
Transportes da Assembleia Legislativa do Estado, e concluiu que ele,
"por lógica, também recebia valores oriundos da propina paga".
Garcia,
hoje secretário do Desenvolvimento Econômico em São Paulo, nega ter
mantido a conversa narrada por Rheinheimer (leia ao lado).
O
executivo depôs no ano passado após um acordo com o Ministério Público
Federal, em que se comprometeu a colaborar com as investigações e
revelar o que sabe sobre a prática de corrupção por fornecedores do
Metrô e da CPTM. Em troca, ele poderá sair do processo sem punição.
O
caso foi encaminhado no ano passado ao STF por causa das acusações a
Garcia e outros dois auxiliares de Alckmin, o chefe da Casa Civil, Edson
Aparecido, e o secretário de Energia, José Aníbal. Eles são deputados
federais e por isso só podem ser investigados com autorização do STF.
Ao
encaminhar o caso ao Supremo, o juiz federal Marcelo Cavali classificou
como frágeis os indícios de que eles receberam propina. No atual
estágio das investigações, a única coisa que existe contra os três é o
depoimento de Rheinheimer. O STF espera um parecer da Procuradoria-Geral
da República para decidir o que fazer com o caso.
'PONTO DE CONTATO'
Segundo
o executivo da Siemens, o encontro com Garcia foi agendado pelo
consultor Arthur Teixeira, suspeito de intermediar o pagamento de
propina das empresas para políticos do PSDB e funcionários do Metrô e da
CPTM.
O
delator disse à PF que procurou Teixeira porque um assessor da CPTM,
Ricardo Ota, lhe avisou que o consultor repassava aos políticos só 5% do
valor da propina e ficava com o resto do dinheiro.
O
executivo disse à polícia que pediu a Teixeira para falar "com o
político, o cara que resolvia, o ponto de contato, porque queria
conhecer o cliente final". Teixeira então marcou o encontro com Garcia,
segundo o depoimento.
Rheinheimer
afirmou à PF que contou a Garcia que o suborno seria de 5% sobre o
valor de um contrato de manutenção de trens da CPTM, de 8% no caso de um
programa de manutenção da CPTM e de 7% nos contratos para a extensão da
linha 2 do Metrô.
O
ex-diretor da Siemens diz que, com a eleição de Garcia para a
presidência da Assembleia, em 2005, o presidente da CPTM, Mário
Bandeira, avisou que "deveria passar a tratar com José Aníbal, deputado
estadual que ficou responsável pelos contatos políticos e com os
pagamentos de propinas pela empresa".
Aníbal,
que nega ter praticado irregularidades, era vereador da cidade de São
Paulo nessa época e diz que não conhecia Bandeira e Garcia.
Rheinheimer
disse à PF que Aníbal nunca o atendeu, mas mandava que procurasse um
auxiliar, Silvio Ranciaro, tucano que foi vice-prefeito de Mairiporã.
Aníbal diz que a alegação é mentirosa.
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