Foto: Wadih Damous, presidente da Comissão de Direitos Humanos, da OAB Nacional
Ditadura vigiou filhos do deputado Rubens Paiva
Revelação foi feita por Comissão da Verdade
BERNARDO MELLO FRANCO DO RIO
Documentos
secretos da ditadura militar revelam que os órgãos da repressão
espionaram os filhos do deputado Rubens Paiva mesmo após o
desaparecimento dele.
O
parlamentar foi morto sob tortura após ser preso clandestinamente em
1971. Ele foi visto pela última vez num quartel do Exército onde
funcionava o Doi-Codi, na Tijuca, zona norte do Rio.
De
acordo com os novos papéis, o escritor Marcelo Rubens Paiva e a
psicóloga Vera Paiva foram seguidos e fichados durante 13 anos.
O último documento é de 1984, ano que antecedeu a redemocratização do país.
O
relatório, do Centro de Informações da Aeronáutica, faz um resumo
biográfico de Marcelo e afirma que ele era filiado ao PT. Segundo Vera
Paiva, a informação é falsa.
Em
1981, o SNI (Serviço Nacional de Informações) escreveu que Vera estava
"ultimando um trabalho sobre torturas no país", que ainda não havia sido
apresentado.
"Fui presa mais de uma vez e humilhada pela repressão", contou Vera Paiva à Folha.
Os
papéis foram divulgados ontem pela Comissão Estadual da Verdade do Rio.
Na véspera, o órgão divulgou o depoimento de um militar que desmonta a
falsa versão oficial de que Rubens Paiva teria fugido da prisão.
Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio, protestou contra a decisão do Exército de não comentar as revelações.
"O silêncio do Exército é algo muito grave", disse.
Link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/151312-ditadura-vigiou-filhos-do-deputado-rubens-paiva.shtml
Leia mais.
Comissão da Verdade convocará agentes da ditadura
Fonte: jornal O Globo
A
Comissão Nacional da Verdade (CNV) vai convocar agentes de segurança
estaduais que o Exército tentou proteger no inicio dos anos 80 de
represálias em função de seu "engajamento pessoal ou funcional com o
ideário da Revolução de 1964"
Documento
revelado pelo GLOBO no último domingo apontou a preocupação com a
segurança de indivíduos considerados colaboradores do regime após a
eleição, em 1982, de governadores de oposição em estados como Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Especialistas consideram o registro
raro, por não ser comum a exposição de colaboradores efetivos do regime
em documentos oficiais.
-
A comissão tem feito com freqüência a coleta de depoimentos, públicos
ou reservados. Esse documento é uma fonte que vamos considerar. Devemos
buscar menções (aos agentes citados) em outras fontes, como o depoimento
de vítimas. Trabalhamos com o cruzamento de informações - disse o
coordenador da comissão, Pedro Dallari.
Segundo
ele, boa parte dos relatos colhidos junto a agentes da repressão está
sendo feita de modo reservado, a pedido dos próprios declarantes. Embora
a comissão não tenha status de autoridade judiciária, uma de suas
atribuições é apontar a autoria de violações aos direitos humanos.
- A regra de confidencialidade é legítima - afirmou.
O
documento revela também que agentes da Polícia Civil do Rio que o
Exército tentou proteger na Polícia Federal para que não sofressem
represálias com a eleição de Leonel Brizola, em 1982, não foram
incorporados ao funcionalismo federal, como ocorreu com agentes de São
Paulo. Eles não só foram mantidos em seus cargos, como alguns
trabalharam próximos de Brizola, um dos principais alvos de
monitoramento do regime.
Alguns
agentes passaram a trabalhar no Departamento Geral de Investigações
Especiais (DGIE), sucessor do antigo Departamento de Ordem Política e
Social (Dops). É o caso do delegado Fernando Pires de Carvalho Aragão,
de 75 anos, aposentado, citado no documento.
Embora
afirme desconhecer os motivos pelos quais foi incluído na lista de
protegidos do Exército, ele afirma ter trabalhado em departamento que
"cuidava até da segurança" de Brizola. O ex-policial diz que não teve
problemas com o político, que, segundo ele, "não teve preocupação de
ficar com picuinha" Ele nega ter colaborado com órgãos de informação
federal durante esse período:
- Trabalhava para manter o governador informado de coisas de que ele precisava saber.
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