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Jornal do Terra
Para uruguaia que ajuda a investigar morte de Jango, ditaduras mantêm mistérios
· BBCBrasil.com
Cinquenta
anos depois do golpe militar que derrubou o governo do presidente João
Goulart, a diretora da secretaria de Direitos Humanos para o Passado
Recente, ligada à Presidência do Uruguai, Graciela Jorge, acredita que
"ainda existe muito a ser descoberto sobre o que ocorreu nas ditaduras
simultâneas nos países do Cone Sul".
Graciela,
que ajuda nas investigações sobre a morte de Jango - que fugiu para o
Uruguai e depois para a Argentina, onde morreu - e está em contato
permanente com a Comissão Nacional da Verdade do Brasil, acredita que o
golpe no Brasil teve um importante impacto simbólico no cenário político
da época nos países vizinhos.
"Foi
um golpe de Estado em um país imenso e que marcou o começo de uma etapa
de golpes e ditaduras nos países que o rodeiam", afirmou, em entrevista
à BBC Brasil.
Se
referindo à Operação Condor - como ficaram conhecidas as ações
conjuntas de militares dos países da região contra opositores a partir
da década de 70 -, Graciela Jorge disse que os militares do Brasil, da
Argentina, do Uruguai, do Paraguai e do Chile agiram com "cumplicidade" e
"conivência".
"Mas
eu acho que essas ações de repressão começaram antes (da Operação
Condor), e é o que também devemos investigar. Ainda há muito a saber
sobre nossa história recente, marcada por arbitrariedade, torturas e
desaparecimentos de pessoas."
Xadrez
Depois
do Brasil, ocorreu o golpe civil-militar no Uruguai em junho de 1973.
Junto com as Forças Armadas, o presidente Juan María Bordaberry fechou o
Congresso Nacional e deu início ao período ditatorial que durou até
1985.
Em
setembro daquele mesmo ano, o general Augusto Pinochet liderou o golpe
militar contra o governo do socialista Salvador Allende, no Chile. Três
anos mais tarde, no dia 24 de março de 1976, os militares, liderados
pelo general Jorge Rafael Videla, assumiram o poder na Argentina.
No
Chile, a democracia foi restaurada em 1990 e na Argentina, em 1983. Só o
Paraguai é que enfrentou um período mais longo de ditadura militar do
que o Brasil: o general Alfredo Stroessner tomou o poder em 1954 e ficou
até 1989.
"Eu
era muito jovem em 1964, mas lembro como todos nós aqui no Uruguai
ficamos chocados com o golpe militar no Brasil. Hoje acho que foi como
um jogo de xadrez, com (...) o maior país da região vivendo o golpe e,
depois, os outros seguindo a mesma etapa ditatorial", disse.
Jango
O
corpo de Jango - que fugiu para o Uruguai e depois para a Argentina
após o golpe - foi exumado no fim do ano passado para verificação da
causa da sua morte. Familiares e autoridades brasileiras suspeitam que
ele tenha sido envenenado.
Na
época da morte, em 1976, não foi realizada autópsia no corpo do
ex-presidente. "Os resultados (dos exames atuais) são incertos. Podemos
ter ou não a revelação do que realmente aconteceu com ele", disse a
secretária.
Graciela
Jorge afirmou ainda que "é preciso continuar investigando" todo o
período das ditaduras na região porque, na sua opinião, somente agora
algumas suspeitas de violações de direitos humanos daquele período estão
sendo reveladas ou realmente investigadas - como é o caso, citou, da
morte suspeita de Jango.
Ela
lembrou que outros casos de mortes suspeitas na ditadura foram
investigados somente recentemente - caso, por exemplo, dos
ex-presidentes chilenos Eduardo Frei Montalva e Salvador Allende e do
escritor chileno e Premio Nobel de Literatura Pablo Neruda.
Em
2005 foi aberta uma investigação judicial para se saber se Frei
Montalva, pai do ex-presidente chileno Eduardo Frei, foi envenenado.
Quatro anos mais tarde, em 2009, um juiz concluiu que ele teria morrido
envenenado.
No
caso de Allende, a conclusão foi de suicídio no momento em que o
Palácio presidencial de La Moneda era bombardeado por tropas lideradas
por Pinochet, e de Neruda, por estar doente.
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