Jornal do Terra
Rússia proíbe importação de carne suína de 10 empresas do Brasil
O
Serviço de Inspeção Agrícola e Criação de Gado (SIAG) da Rússia
informou nesta quarta-feira que dez frigoríficos do Brasil estão
proibidos de fornecer seus produtos para o mercado da União Aduaneira
(UA), formada por Rússia, Belarus e Cazaquistão.
A
decisão foi tomada depois da inspeção realizada por veterinários russos
em 18 empresas brasileiras. Foram constatados "descumprimentos
generalizados e alguns particulares" das normas sanitárias da UA na
maioria delas, segundo comunicado do SIAG.
As
inspeções revelaram a presença de ractopamina (uma substância para
estimular o crescimento muscular dos animais proibida na Rússia) na
carne de porco à venda no Brasil, o que, segundo as autoridades russas,
não exclui a possibilidade de que esta possa ser exportada à União
Aduaneira.
O
chefe do SIAG, Sergei Dankvert, advertiu que, dependendo de outras
inspeções, a Rússia pode estender a proibição para toda a carne de porco
produzida no Brasil.
"Se
durante futuras inspeções constatarmos que os serviços veterinários do
Brasil são uma mera formalidade para a inclusão de novas empresas na
lista de exportadores para a Rússia, restringiremos a carne de porco
procedente de todo o país", disse Dankvert.
O
Brasil é o segundo maior exportador de carne de porco e aves para a
Rússia. No ano passado, as empresas brasileiras forneceram 124,4 mil
toneladas destes produtos no valor de quase US$ 400 milhões.
Leia mais.
Bromatologia em Saúde
Estudos e Pesquisas dos alunos da disciplina Bromatologia em Saúde oferecida pela Faculdade de Farmácia da UFRJ
Apresentação
Espaço para a apresentação e análise de estudos e pesquisas de alunos da UFRJ, resultantes da adoção do Método de Educação Tutorial, com o objetivo de difundir informações e orientações sobre Química, Toxicologia e Tecnologia de Alimentos.
O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.
O Blog também é parte das atividades do LabConsS - Laboratório de Vida Urbana, Consumo & Saúde, criado e operado pelo Grupo PET-SESu/Farmácia & Saúde Pública da UFRJ.Nesse contexto, quando se fala em Química e Tecnologia de Alimentos, se privilegia um olhar "Farmacêutico", um olhar "Sanitário", um olhar socialmente orientado e oriundo do universo do "Consumerismo e Saúde", em vez de apenas um reducionista Olhar Tecnológico.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Será a Ractopamina a vilã da carne brasileira?
Nos últimos meses, surgiram grandes questionamentos sobre a qualidade
da carne brasileira gerados por países como Rússia e China. A grande
polêmica girou em torno da Ractopamina, uma substância utilizada para o
crescimento e engorda de suínos e bovinos. Se por um lado, os países que
embargaram a carne brasileira não acham suficientes os estudos e dados
de que a substância é segura para consumo humano, por outro, grandes
órgãos de regulamentação, como o Codex Alimentarius, permitem o uso da
Ractopamina, com restrições quanto ao limite máximo. De que lado você
está? Carne com insumo necessariamente significa carne de má qualidade?
Faz mal à saúde? Devemos desconfiar dos órgãos regulatórios? Informe-se
sobre o assunto.
A Ractopamina é um promotor de crescimento, apresentado comercialmente
como Ractosuin®, Transuin® e RacTop®. Este produto é amplamente
utilizado na suinocultura visto que é capaz de modificar o metabolismo
animal, resultando em uma redução do teor de gordura e aumento da carne
magra.
Fundamentos Bromatologicos/Toxicologicos
A Ractopamina, assim como outros promotores de crescimento a exemplo do
Salbutamol, apresenta estrutura química semelhante a hormônios
importantes como a adrenalina e a noradrenalina. Esses aditivos vêm
sendo utilizados a fim de aumentar a taxa de ganho de peso dos animais,
bem como a deposição de carne magra em sua carcaça.
O promotor de crescimento em questão é um agonista β-adrenérgico que
age a nível de receptores presentes nas células musculares, aumentando o
diâmetro das fibras e assim, a massa muscular. Nas células adiposas,
atua catalisando a quebra de triacilglicerídeos e, consequentemente,
reduzindo a deposição de gordura.
Sabe-se que, assim como os outros agonistas β-adrenérgicos, a
Ractopamina quando utilizada a longo prazo é capaz de causar tremor
muscular, taquicardia, vasodilatação, distúrbios metabólicos, entre
outros sintomas em seres humanos. Diversos estudos sobre a possível
toxicidade da Ractopamina vêm sendo realizados em animais como macacos,
ratos e cães. Apesar disso, os cientistas conseguiram chegar a poucas
conclusões sobre seu efeito em parâmetros como genotoxicidade,
teratogenicidade, mutagenicidade e implicações cardiovasculares e
musculares. Órgãos internacionais, a exemplo da FAO, puderam apenas, com
base em alguns estudos que relataram uma possível cardiotoxicidade da
Ractopamina, determinar a sua Ingestão Diária Aceitável (IDA) com um
amplo Fator de Segurança.
Revisão/análise da legislação pertinente
De acordo com a Instrução Normativa nº 8 do Ministério de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), de 29 de abril de 2010, foram aprovados
os Programas de Controle de Resíduos e Contaminantes em Carnes (Bovina,
Aves, Suína e Equina), Leite, Mel, Ovos e Pescado para o exercício de
2010. Nela, determina-se o limite de referência de diversas substâncias
em diferentes matrizes, como músculo, urina e fígado. A Ractopamina é
citada como um analito do grupo dos betagonistas e possui um limite de
20 µg/Kg de músculo de carne suína e de aves, e 5 µg/Kg de músculo de
carne bovina. Segundo o MAPA, a Ractopaminaé indicada para uso exclusivo
em rações para suínos em fase de terminação, como repartidor de
energia, estando entre 5 – 20 g/tonelada de ração.
O CodexAlimentarius não aborda a autorização para o uso de medicamentos
veterinários em animais produtores de alimentos, mas estabelece limites
máximos de resíduos. Estes servem como recomendações para autoridades
nacionais de vigilância sanitária seguirem, com o objetivo de promover a
segurança dos alimentos produzidos e comercializados. O consumo diário
recomendado através da ingestão de ração é de 0 – 1 µg/Kg de peso
corporal do animal. O limite máximo de resíduo em músculo de porcos e
bovinos é de 10 µg/Kg. Estes dados referem-se à última reunião da
comissão, em julho de 2012. A partir desta decisão, teoricamente, os
alimentos que estão dentro destas normas não podem ser proibidas de
entrar no país importador do produto.
O FDA também regulamenta a presença de Ractopamina nos alimentos, sendo
o consumo diário recomendado através da ingestão de ração pelos animais
de 4,5 – 9 gramas/tonelada.
Discussão
Como visto anteriormente, a adição de Ractopamina à dieta de suínos
aumenta a massa muscular e reduz a deposição de gordura. Apesar dos
efeitos benéficos visíveis para a produção de carne suína, o uso deste
promotor de crescimento é controverso, o que foi possível observar nos
últimos meses através do embargo imposto à carne contendo traços de
Ractopamina por países como Rússia e China. Alguns especialistas dizem
que o produto em questão é capaz de causar efeitos colaterais graves
como problemas cardíacos e mutagenicidade, entretanto órgãos reguladores
afirmam que a sua presença no alimento, dentro de limites
estabelecidos, não é capaz de trazer risco à saúde.
Mesmo com pesquisas científicas realizadas pelo Comitê Conjunto de
Especialistas sobre Aditivos Alimentícios da FAO/OMS (Jecfa) que a
utilização da Ractopamina não tem impacto sobre a saúde dos consumidores
e a determinação do limite máximo desta substância na carne de animais,
ainda é grande a desconfiança sobre seus efeitos a longo prazo.
Com a determinação e publicação no Codex Alimentarius, um país
importador não pode proibir a entrada da carne que contenha a substância
dentro dos padrões autorizados, porém, não foi isso que se observou nos
últimos meses, quando alguns países embargaram a carne brasileira. No
Brasil, assim como nos Estados Unidos, é permitida a mistura de
Ractopamina na ração dos suínos e bovinos, mas na União Européia e na
China, grandes importadores de carne, ela é proibida. O impacto gerado
por este tipo de restrição à carne pode causar grandes problemas na
economia dos diversos países que utilizam este insumo.
Conclusão
O uso do promotor de crescimento Ractopamina vem gerando muita
discussão entre produtores e importadores de carne suína. Se por um
lado, os produtores são suportados por documentos oficiais e decisões de
órgãos internacionais, por outro, os importadores ainda desconfiam do
uso à longo prazo desta substância e quais conseqüências elas trazem
para o organismo humano. Estudos toxicológicos em diversos modelos
animais vêm demonstrando a capacidade da Ractopamina em causar efeitos
adversos, mas ainda não são capazes de afirmar tal hipótese visto que
também existem estudos que apontam para a sua não toxicidade tanto em
animais, quanto em humanos. Desse modo, cria-se um impasse entre alguns
importadores que exigem mais dados científicos e as agências
regulatórias que os acham suficientes. Já que eles não chegam consenso
cabe à nós, consumidores, avaliar criticamente se queremos ou não
consumir a carne suína com Ractopamina.
Bibliografia citada
ROSA,
R. A. Ractopamina para suínos em terminação. Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Campo Grande, 2009
Evaluation
of certain food additives and contaminants: Sixty-second report of the
Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. WHO Food Additives
Series, No. 53, 2005.
Evaluation
of certain veterinary drug residues in food: Seventy-fifth report of
the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives. WHO technical
report series, no. 969, 2012.
Tabela
de aditivos autorizados para uso em produtos destinados à alimentação
animal – geral com exceção dos antimicrobianos, anticoccidianos e
agonistas. 2011. Disponível em: Acesso em: 06/01/2013.
Discussion
on Ractopamine in Codex and in Joint FAO/WHO Expert Committee on Food
(JECFA). Codex and JECFA Secretariats. 2012. Disponível em: <http://typo3.fao.org/fileadmin/user_upload/agns/pdf/Ractopamine_info_sheet_CodexJECFA_rev_26April2012__2_.pdf>. Acesso em: 06/01/2013.
Ministério da Agricultura, pecuária e abastecimento. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 8, DE 29 DE ABRIL DE 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário