Jornal do Terra
'Isso aqui para nós é um luxo', diz médico palestino formado em Cuba
Médico palestino diz que agentes comunitários são luxo para realidade cubana
Foto: Daniel Favero / Terra
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Daniel Favero
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A
realidade da saúde brasileira apresentada para os profissionais
inscritos no programa Mais Médicos parecia desoladora até para um médico
que testemunhou os horrores do terremoto do Haiti, como é o caso do
cirurgião palestino formado em Cuba Tarek Abuiada, que nessa semana
começou a trabalhar na cidade de Esteio. No entanto, já no posto de
saúde, descobriu que muito do que planejava fazer já tinha sido iniciado
pela equipe da saúde da família. “Lá (em Cuba) não tem agente
comunitário. Tem o consultório e enfermeira, isso aqui para nós é um
luxo”.
“Mudou
minha concepção do Brasil, e acho que temos que nos esforçar muito para
levar nossa assistência médica à população mais carente e necessitada”,
dizia Tarek, na recepção aos médicos estrangeiros organizada pelo
governo do Rio Grande do sul no início de setembro. Dias antes de
iniciar o atendimento, após encontrar com a equipe do posto onde
trabalharia, o médico se dizia surpreso com o trabalho dos agentes
comunitários.
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“Antes
de entrar no curso de acolhimento, cada médico já tinha na sua cabeça
as ideias de como vai trabalhar, então eu estava pensando que teria que
levantar o número de grávidas, fazer as visitas familiares, fazer o
acompanhamento, mas descobri que os agentes comunitários já faziam isso
tudo... a única coisa que falta é o médico”, disse no final do mês
passado comemorando que no Brasil, os recursos para esse trabalho eram
melhores do que o que ele viu na ilha dos irmãos Castro.
Clique no link para iniciar o vídeoMédicos palestino fala sobre experiência no Brasil
No
dia 30 de setembro Dr. Tarek começou a trabalhar. Os funcionários do
Posto de Saúde Votorantim se diziam impressionados com sua capacidade de
manejo e elogiavam a forma humanizada de atender as pessoas. A fama do
médico palestino parecia ter se espalhado pela comunidade, tanto que ao
chamar os pacientes, já ouvia-se o comentário, “nossa, como ele é
educado”.
Nunca neguei e nunca vou negar atendimento
Tarek AbuiadaMédico palestino formado em Cuba
Apesar
de ter vindo de um local onde conflitos territoriais entre Palestina e
Israel provocam muita revolta e violência, Tarek resolveu dedicar sua
vida as causas humanitárias. Aproveitou a oportunidade de estudar em
Cuba, onde conheceu sua mulher, a gaúcha Fernanda, e resolveu por conta
própria ajudar no Haiti.
“Os
estrangeiros que estão aqui tem um perfil ideológico solidário, de
querer trabalhar, de ajudar a população carente e de baixa renda”,
conta, dizendo que pagou do próprio bolso a passagem para o Haiti, onde
junto com profissionais espanhóis trabalhou ajudando os feridos na
tragédia. “Eu sempre gostei de ajudar as pessoas, fui voluntário lá,
pagamos a passagem do nosso próprio bolso, mas é uma coisa que faz parte
da pessoa”, conta.
Os
estrangeiros que estão aqui tem um perfil ideológico solidário, de
querer trabalhar, de ajudar a população carente e de baixa renda
Tarek AbuiadaMédico palestino formado em Cuba
Para
ele, ser médico é quase uma forma de vida, e diz que na cidade de
Rivera, no Uruguai, onde vivia antes de entrar no Mais Médicos, sua casa
parecia mais um consultório que uma residência.
“Falei
em uma entrevista que tinha vindo para ajudar, mas nos comentários
algumas pessoas diziam que eu estava sendo pago para isso, outro dizendo
que tinha que ajudar a Palestina... minhas carga horária é de oito
horas diárias, mas trabalho de noite atendendo quem não pode vir, minha
casa em Rivera parecia uma clínica, nunca neguei e nunca vou negar
atendimento”, dizia.
Sua
mulher foi selecionada para a segunda fase do Mais Médicos, já chegou
ao Rio Grande do Sul, mas logo embarca para Brasília, onde deve passar
por um treinamento de três semanas, além de mais sete dias de curso em
Porto Alegre. “Foi por causa dela que eu escolhi vir para o Brasil, e
graças a Deus ela foi selecionada para Esteio”, comemorava.
Dr.
Tarek já conseguiu alugar uma casa na cidade, mas diz que teve um pouco
de dificuldades com a busca de um avalista e com os seguros necessários
para o contrato. No entanto, ele afirma que a prefeitura tem dado todo o
suporte para que possa se acomodar.
“Acho
que o que mais me agrada aqui são as pessoas. Estive em vários países
da América Latina e do mundo, e o brasileiro é um povo muito sociável,
me identifiquei muito rápido. Digo para minha mulher que quando tu vai a
qualquer lugar o tratamento é único, só o brasileiro tem esse
tratamento tão humano”, diz.
ENTENDA O 'MAIS MÉDICOS'
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Profissionais receberão bolsa de R$ 10 mil, mais ajuda de custo, e
farão especialização em atenção básica durante os três anos do programa.
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- As vagas serão oferecidas prioritariamente a médicos brasileiros, interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais.
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No caso do não preenchimento de todas as vagas, o Brasil aceitará
candidaturas de estrangeiros. Eles não precisarão passar pela prova de
revalidação do diploma
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O médico estrangeiro que vier ao Brasil deverá atuar na região indicada
previamente pelo governo federal, seguindo a demanda dos municípios.
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Criação de 11,5 mil novas vagas de medicina em universidades federais e
12 mil de residência em todo o País, além da inclusão de um ciclo de
dois anos na graduação em que os estudantes atuarão no Sistema Único de
Saúde (SUS).
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Terra
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