Óleo de cozinha chega a voo brasileiro
Gol faz primeiro voo comercial com biocombustível, para chamar atenção a projeto de fabricar alternativa no país
Tecnologia já existe, mas, como não há escala, custo ainda impede utilização; setor quer incentivo
MARIANA BARBOSA DE SÃO PAULO
Com
querosene feito de óleo de cozinha reciclado nas turbinas, a Gol fez
ontem o primeiro voo comercial com biocombustível do país. O voo partiu
de Congonhas para Brasília com uma mistura de 22% de querosene
alternativo fabricado na Califórnia.
Ainda
que a tecnologia já esteja disponível --o combustível é idêntico ao de
origem fóssil e pode ser misturado sem necessidade de adaptações de
motor--, o custo é proibitivo e a ideia do voo é chamar a atenção para a
necessidade da adoção de políticas públicas para a criaçãode uma
indústria de bioquerosene de aviação.
Hoje,
o litro de bioquerosene custa R$ 7,50. O fóssil custa R$ 2,00. O voo
realizado pela Gol custou praticamente o dobro de um voo normal e foi
patrocinado pelos parceiros Boeing, GE e outros, que integram a
Plataforma Brasileira de Bioquerosene.
A
plataforma pleiteia a criação de uma espécie de pro-bioquerosene, aos
moldes do pro-álcool ou do programa de biodiesel, com desoneração da
produção por um período inicial, ou uma política que estabeleça níveis
mínimos de mistura.
Segundo
o diretor de operações da Gol, Pedro Scorza, se o governo de São Paulo
se dispuser a reduzir a metade o ICMS para combustíveis com misturas com
até 10%, de uma alíquota de 25% para 12%, por exemplo, já seria
suficiente para equiparar os preços e estimular a adoção do produto
alternativo.
O
Brasil consome hoje 7,3 bilhões de litros de querosene de aviação, dos
quais aproximadamente um terço em São Paulo. O querosene representa de
30% a 40% dos custos das companhias.
A
única empresa capaz de produzir bioquerosene de aviação no Brasil é a
Amyris, localizada em Brotas. A refinaria de US$ 50 milhões entrou em
operação no final do anos passado e tem capacidade para 40 milhões de
litros ano. A matriz é cana de açúcar, mas o produto depende ainda de
certificação, o que deve acontecer até o final do ano. "A escala é tão
pequena, que no início vai ter que ter algum incentivo", afirma o
vice-presidente da Amyris, Joel Velasco.
Outro
projeto, ainda no papel, é da Curcas. A empresa que pretende levantar
US$ 250 milhões para construir uma fábrica com capacidade para 300
milhões de litros.
O
presidente da Curcas, Mike Lu, diz que o projeto, que tem como matriz
óleos vegetais como o de pinhão manso, está em fase de análise de
viabilidade econômica. Ele estima mais uns três anos para ver a
refinaria em ação.
"O
Brasil está assumindo o protagonismo na indústria de biocombustível,
com vantagens comparativas de solo, clima e sobretudo a experiência de
já ter desenvolvido uma indústria de bioenergia", disse a presidente da
Boeing, Donna Hrinak.
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