terça-feira, 15 de outubro de 2013

Espionagem Global dos EUA.

Assange a RT: ‘EUA havia perdido a América Latina de vista por estar ocupado no Oriente Próximo’
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Julian Assange, o criador de WikiLeaks, concedeu uma entrevista exclusiva a Eva Golinger, apresentadora do programa de RT ‘Detrás de la Noticia’, onde deu sua opinião sobre a espionagem global dos EUA
11 outubro 2013
Tradução: ADITAL
Versão completa da entrevista exclusiva de Eva Golinger a Julian Assange, em 'Detrás de la Noticia'
EVA GOLINGER: Bem vindos a ‘Detrás de la Noticia’, em RT. Aqui estamos com um programa muito especial. Nos encontramos na embaixada do Equador em Londres. Está conozco o fundador de Wikileaks, Julian Assange.
JULIAN ASSANGE: De nada.
GOLINGER: Muito obrigada, senhor Assange por estar conosco em "Detrás de la Noticia”. Em primeiro lugar, temas como ciberguerra, espionagem, monitoramento de informação… O senhor tem escrito bastante sobre esses temas e também a organização Wikileaks expôs o uso desses mecanismos por parte do governo dos EUA e seus aliados para avançar mais seu poder e influência no mundo. Como o senhor percebe as revelações e documentos publicados através de Edward Snowden, ex-contratista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, que causaram uma reação furiosa na América Latina, devido o que revelaram sobre a espionagem massiva dos EUA e também, especificamente, a chefes de Estado de países como o Brasil, o México, a Venezuela e a Bolívia, o que foi sua forte condenação às reações desses governos na América Latina frente a essas informações?
ASSANGE: 98% das telecomunicações da América Latina para o restante do mundo, contando mensagens de texto, chamadas telefônicas, correios eletrônicos etc. passa através dos EUA. Em virtude da geografia da América e como resultado desta, as agências dos EUA têm a vantagem de ser o centro neurálgico através do qual podem interferir com facilidade nas comunicações que passam através deles; catalogá-las e guardar certos dados para sempre e, assim, obter informação de como a América Latina se comporta, para onde se move, quais as transferências econômicas, as atividades dos líderes e de atores chave.
De alguma maneira, isso permite aos EUA prever o comportamento dos líderes e interesses latino-americanos e também chantagear a quase qualquer pessoa importante. Na América Latina, quase todo mundo pode ser chantageado pelos EUA, porque tem acesso aos seus arquivos de telecomunicações que passam por lá, da mesma forma que outros dados obtidos na América Latina, mediante a instalação de "escutas” na fibra ótica ou nos equipamentos de vigilância em embaixadas e agências de desenvolvimento. Como as que foram descobertas no Equador, como resultado das filtrações realizadas por E. Snowden. Então, existe uma situação na qual os EUA traçaram o mapa da estrutura da comunidade inteira, as relações entre os indivíduos que têm oportunidade de exercer alguma influência na América Latina e pode produzir mudanças e fazer com que distintos atores se enfrentem.
Se isso é verdade, então, por que Maduro ganhou as eleições na Venezuela?; por que o presidente Correa ganhou com uma significativa maioria as eleições no Equador, dada a atitude dos EUA para com os Estados. Não é porque os EUA não contem com suficientes dados de inteligência sobre a América Latina. É a consequência de que os Estados Unidos tiraram seus olhos da América Latina por uns 10 anos e os colocaram no Oriente Médio, e, em certa medida, sobre a Ásia. Nesse período, vários países latino-americanos desenvolveram e fizeram crescer sua independência dos interesses dos EUA. E agora, infelizmente, os EUA estão voltando a interessar-se na América Latina. E, diferente de 10 anos atrás, agora, eles têm um massivo aparelho de vigilância mundial, para controlar cada indivíduo.
GOLINGER: A presidenta do Brasil Dilma Rousseff, em um discurso ante a Assembleia Geral das nações Unidas, condenou fortemente esse programa de espionagem massivo de Washington e também fez uma proposta de criar uma plataforma internacional de Internet livre do controle dos EUA. Essa proposta foi respaldada por outros países da América Latina. É possível a soberania tecnológica nesse sentido, fora do controle dos EUA e é algo que realmente poderia solucionar essa situação da invasão e da violação da soberania?
ASSANGE: Assim como a soberania não tem significado sem liberdade de movimento, não existe uma soberania significativa sem independência econômica e não existe soberania se ainda não há controle de suas próprias comunicações. É a liberdade de movimentos, a liberdade de comunicações e a liberdade de interação econômica que define um Estado. EUA tentaram agressivamente impedir o intercâmbio econômico através da intervenção e o controle de Swift, Visa, MasterCard ou do dinheiro enviado para a América Latina mediante o Bank of America e, inclusive, entrando aos principais sistemas de computação da região que operam importantes segmentos do governo e dos meios; a Petrobras, no Brasil; e outros importantes interesses econômicos; e interferindo na soberania das comunicações. A questão é essa! Seja uma pessoa ou uma organização que façam parte de um Estado ou outro, ou de uma parte do Estado, podem controlar seus movimentos, seus intercâmbios econômicos ou seus intercâmbios em telecomunicações. EUA está se apropriando da interação econômica e da interação em telecomunicações e o que resta é um certo controle do força física nesse Estado.
Isso também tem acontecido em outros países, como fez EUA ao estender a petição de extradição. O próprio fiscal de Segurança Nacional está me processando com base nisso. A petição de extradição foi divulgada na Venezuela, na Bolívia, em Hong Kong, na Islândia e na Irlanda. Isso tudo aproveitando-se das disposições dos tratados que forçavam a polícia e os sistemas judiciais de outros países a obedecer aos interesses do governos dos EUA.
Assim, ao subordinar os sistemas políticos legislativos e as disposições dos tratados a outro governo é uma maneira de controlar todas essas forças. E a teoria acadêmica do que está acontecendo aqui é chamada de "lei justa”, que significa usar as disposições internacionais dos acordos e das organizações multilaterais para conseguir as conquistas territoriais que normalmente são conseguidas mediante guerras em vez de fazê-lo mediante a lei. Então, quando vinculadas essas atividades às telecomunicações, os responsáveis das políticas devem estar advertidos na América Latina. Não há uma soberania efetiva sem a soberania dos elementos necessários: interação econômica, telecomunicações e instrumentos de controle policiais e judiciais.
Essa é a ideia proposta por Dilma de estabelecer uma comissão reguladora internacional para a Internet. Isso provocou o terror da União Internacional de Telecomunicações (UIT), que têm o controle dos aspectos chave da regulação, já que a UIT tem sido dominada pela Europa durante muitos anos. Não creio que a Internet deva ser dominada por nenhuma região e, consequentemente, não deve ser dominada por governos, pois tem dado espaço para uma grande liberdade de comunicação entre os indivíduos e do comércio e negócios devido à falta de controle dos Estados
Algumas das propostas feitas não são um mecanismo para dar aos brasileiros uma maior liberdade de intercepção; são um mecanismo para dar ao governo brasileiro igual acesso a interceptar a informação. Deve-se ter muito cuidado. É uma tendência natural dos Estados, claro, querer aumentar seu poder e estão mais interessados em aumentar o poder nacional do que preocupados porque EUA podem aumentar seu poder.
GOLINGER: O senhor escreveu e criticou bastante sobre o Google, um serviço muito comum utilizado em todo o mundo. O senhor acusou a Google de ser uma extensão da política exterior dos EUA. Muitos chefes de Estado na América Latina, altos funcionários, uma grande parte da cidadania têm contas no Gmail. Por que considera que o Google significa tanto perigo para nossa sociedade? Quais são as alternativas?
ASSANGE: Escrevi sobre isso no meu livro ‘Cypherpunks’ e em alguns Artigos recentes que reviam o livro do Diretor Executivo do Google, ‘The New Digital Age’. Nesse livro está muito claro o que está acontecendo. Google apresenta Washington como um visionário geopolítico que pode mostrar o caminho a ser seguido na América Latina, na Ásia ou na Europa. É um trabalho bastante reacionário com o respaldo prévio de Henry Kissinger, Madeleine Albright, Tony Blair, Michael Hayden, ex-diretor da CIA e da NSA, o reconhecimento principal é para Kissinger. Então, de onde vem isso?
Isso vem do Google, que nasceu na Califórnia, como uma grande parte da cultura estudantil, na Universidade Stanford e foi uma iniciativa muito boa para desenvolver serviços que o mundo possa usar. Porém, como o Google é grande, o governo também ficou envolvido. Ao pretender sair ao mercado internacional, tiveram que relacionar-se com o Departamento de Estado até o ponto do chefe de ‘Google Ideas’ ser o ex-conselheiro de Hillary Clinton, saindo do Departamento de Estado.
Esses estreitos laços entre os chefes do Google e o Departamento de Estado estão documentados em WikiLeaks. As publicações sobre Stratford contêm cabos que provam vínculos entre as figuras chave do Departamento de Estado e o Google. Isso não nos surpreendeu reconhecer que já em 2009 o Google se meteu com a NSA para participar no programa de prisões. Podemos dizer que agora Google é parte da família estadunidense. Agora, gasta mais dinheiro em gestões em Washington do que Lockheed Martin. No Livro Google destaca-se que o que Lockheed era para o século XX, para o século XXI serão as companhias de alta tecnologia. De fato, isso é uma forma bastante forte de neoimperialismo. Quero evitar banalidades; porém, disso se trata: dar a todo o mundo com o sistema econômico e de informação dos EUA.
GOLINGER: Agora, vamos falar um pouco sobre Wikileaks, organização que o senhor fundou. Já publicou centenas de milhares de documentos classificados de agências dos EUA, entre outras potências, e teve um impacto significativo em âmbito mundial. Foi atingida pelo forte ataque por parte do governo dos EUA. Mas, continuam publicando documentos. Como continuam funcionando sob esses ataques se estes continuam, e quais são os planos de WikiLeaks para o futuro?
ASSANGE: Os ataques continuam. Tudo isso começou em 2010. O Pentágono deu uma conferência de imprensa de 40 minutos. Durante esse evento, essa organização nos demandou como instituição e também a mim, pessoalmente para que destruíssemos todos os nossos materiais publicados em relação ao governo dos EUA e também tudo o que pensamos publicar no futuro e que deixássemos de colaborar com os delatores do exército estadunidense, do contrário, nos obrigariam a fazê-lo. Nós respondemos que não. Somos editores e prometemos a nossas fontes e ao nosso público publicar materiais com toda a transparência. O governo dos EUA tem estado envolvido em uma longa guerra contra WikiLeaks, que ainda continua.
Isso começou com uma investigação de todo o governo, incluindo as 12 diferentes agências estadunidenses, entre elas a CIA. Foi publicamente declarada como o Grande Julgamento contra WikiLeaks, uma investigação que continuará até o dia 23 de agosto. A situação na qual estamos é que a suposta fonte importante de WikiLeaks, Bradley Manning, foi sentenciado a 35 anos. É uma vitória tática, creia-se ou não, de sua equipe de defesa, porque o governo dos EUA exigia para ele uma cadeia perpétua, sem liberdade condicional. Provavelmente, como resultado da intervenção do caso de E. Snowden, e sabemos que é uma realidade, o sentimento em Washington em relação à WikiLeaks é cada vez mais adverso. Porém, nossa organização continua fazendo publicações; continua lutando nos tribunais, onde intervimos muitas vezes.
No caso de Bradley Manning, tivemos uma série de julgamentos vitoriosos contra o bloqueio bancário. É interessante o fato de que todos os julgamentos nos quais WikiLeaks foi envolvido, houve vitórias significativas no Parlamento Europeu, onde conseguimos impulsionar a legislação destinada a parar o bloqueio bancário. Esse bloqueio é similar ao que estão fazendo com Cuba. Em relação aos bloqueios financeiros e à liberdade da interação econômica é o direito soberano de cada Estado. Refiro-me ao direito de cada Estado à interação econômica. A Internet significa a fusão da interação econômica e a comunicação. Quando os EUA querem interceptar ou supervisionar a interação econômica entre as empresas e as pessoas, faz com que a Internet pare. Isso piora cada vez mais. Se você quer bloquear o intercâmbio econômico de um banco, tem que bloquear suas telecomunicações.
GOLLINGER: O senhor mencionou o caso do soldado Manning, Chelsea Manning, como agora é conhecida, e condenada a mais de 35 anos de prisão por espionagem; porém, a acusação e a sentença foram baseadas nesse cargo de espionagem por ter dado documentos classificados a um meio de comunicação. O que significa isso para o jornalismo, para meios de comunicação se são tratados como inimigos? Por que foi aplicada a Lei de Espionagem? Ao ser tratados como inimigos, será que isso não põe em risco o jornalismo? E que significa isso para o trabalho de denunciantes e de jornalistas? Isso faz parte da excepcionalidade tão defendida pelo presidente Barack Obama, em um discurso recente na 68ª Assembleia da ONU?
ASSANGE: Veja, quando um presidente fala sobre excepcionalidade, o que está tentando dizer? Trata-se de que não se aplicam as regras do comportamento civilizado, tanto em caso de invadir outro país, quanto abusar da lei em seu próprio território. Sobre a forma pela qual Barack Obama usa a lei de espionagem contra os supostos informantes dos jornalistas e contra os jornalistas é algo novo. É muito importante que as pessoas entendam que não se trata de um pequeno desvio, mas de uma mudança radical. Barack Obama processou mais pessoas segundo a Ata de Espionagem, mais informantes dos jornalistas do que todos os presidentes anteriores juntos desde 1917. De fato, ele processou o dobro. É uma decisão consciente e deliberada da Casa Branca para criar um efeito intimidatório com a ajuda da Ata de Espionagem como contrapeso para alguns outros mecanismos. No caso de Bradley Mannig, não há alegação e nunca existiu alegação de que ele tivesse passado informação para outro país; de que tivesse vendido informação; de que tivesse intenção de causar danos aos EUA ou a seu povo de alguma maneira. É um abuso linguístico chamar espionagem à ação de falar com os meios. É um abuso similar dizer que WikiLeaks, sendo um portal de publicações, dedica-se à espionagem.
GOLINGER: Agora, quero falar sobre seu caso. Estamos aqui na Embaixada do Equador, em Londres, onde o senhor está há mais de um ano, quase um ano e meio. Recebeu asilo político e diplomático do Equador; porém, não pode viajar para o Equador porque se sair por essa porta, as autoridades britânicas podem prendê-lo. Recentemente, o Chanceler do Equador, Ricardo Patinho, afirmou que estão trabalhando muito para negociar uma solução com o governo britânico; porém, até o momento, sem êxito. Afirmou que poderiam levar o caso a um tribunal internacional: violação da soberania, do direito ao asilo. Como o senhor vê que essa situação pode ser resolvida?
ASSANGE: É uma mistura política, diplomática e legal. Creio que em um prazo razoavelmente curto, um ano e meio, de fato, há alguns sinais positivos de que haveria uma resolução. O tempo está a meu favor nessa situação. Em parte, porque à medida que o tempo passa, surgem mais dados sobre a situação. Apresentamos demandas criminais na Suécia, na Alemanha, em relação à atividade de inteligência contra a organização. Por isso, creio que a posição de alguns dos figurantes envolvidos torna-se cada vez mais inalcançável com o passar do tempo. Vimos, por exemplo, até ao lorde conservador, o prefeito de Londres, Boris Johnson, denunciar o gasto na polícia que me espia fora dessa embaixada e dizer que o dinheiro que agora supera dez milhões de dólares deveria ser gasto na polícia de elite, no trabalho policial próprio, em vez de custodiar essa Embaixada.
GOLINGER: O senhor e Edward Snowden receberam asilo. No Equador, em seu caso; no caso de Snowden, ofertas de asilo na Venezuela, na Bolívia, também na Nicarágua. Ele recebeu asilo temporário na Rússia, para onde o senhor, através de WikiLeaks, o ajudaram a chegar. Considerando que países latino-americanos, tradicionalmente têm menos poder e são consideradas nações em desenvolvimento, qual sua opinião sobre a valentia dos países latino-americanos ao desafiar o poder dos EUA, apoiando os senhores?
ASSANGE: Bom, é extremamente interessante, certo? Estivemos envolvidos na petição de asilo de Edward Snowden, formal e informalmente ao redor de 20 diferentes nações. Alguns porque pensamos que era uma oportunidade digna; outros, porque queríamos mostrar ao público a negativa e gerar um certo debate público e que houvesse testemunhas de como o governo estava se comportando. Porém, você tem razão: em relação a essas nações que deram um passo, foram a América Latina e a Rússia, não toda a América Latina tampouco; mas a Venezuela, a Bolívia e o Equador mostraram interesse. O que isso significa? Não são países muito poderosos. No caso da Rússia, podemos entender, já que tem suas próprias armas nucleares; é geograficamente independente... Mas, a América latina, não. Portanto, creio que é realmente uma expressão da democracia latino-americana, onde há governos que sentem a necessidade de ser responsáveis com seu povo; que necessitam expressar os valores que perseguem ou os valores que a população necessita. Vejo que é uma parte da natureza democrática da Venezuela, do Equador. Talvez o Brasil não fez ainda uma oferta porque está começando a responder a outras questões... E protegendo a ecologia, começando a responder à pressão pública.
Pode-se comparar de uma forma interessante a Alemanha e a Venezuela, pois na Alemanha, a privacidade é realmente uma grande preocupação; provavelmente, sobretudo, dos países médios. A privacidade é o que mais se valoriza na Alemanha devido ao que aconteceu na II Guerra Mundial e por outros aspectos culturais. E na Alemanha temos Angela Merkel; eles não necessitam envolver-se nesses acontecimentos sobre o asilo de Snowden, sobre espionagem no contexto dos interesses e privacidade do país, de um país que tem eleições federais, nem há publicações de documentos alemães. Não, o governo alemão não ofereceu asilo a Snowden e nem nada parecido. Esse é um exemplo que, inclusive, se a população tem um desejo democrático, é somente o desejo do povo. Um exemplo de que o governo não reflete bem o desejo da população. Podemos ver no Equador, na Venezuela e na Bolívia que o governo é mais receptivo, pelo menos em relação aos assuntos de soberania, às demandas da população.
GOLINGER: Agora, quero fazer uma última pergunta com vários temas. Um é o tema do jornalismo, jornalismo investigativo. Se jornalistas, denunciantes, os que publicam informação sobre os abusos do poder cometidos pelo governo dos EUA e outras potências com bastante poder, são tratados como terroristas ou inimigos do Estado, o jornalismo investigativo está em perigo de extinção? Referindo-nos ao caso de Snowden como denunciante e a perseguição contra ele: o que isso significa para quem, no futuro, denunciar abusos no poder? Como vê a resolução do caso Snowden? E uma última parte dessa pergunta é o novo filme que está sendo divulgado sobre WikiLeaks, sobre sua pessoa, "O quinto poder”, um filme feito em Hollywood, que o senhor já criticou como uma medida de propaganda para distorcer ou manipular o trabalho que vocês têm feito. Isso tudo faz parte da campanha para desacreditar o trabalho de WikiLeaks, que denuncia os abusos cometidos, particularmente, pelo governo dos EUA?
ASSANGE: Edward Snowden está a salvo na Rússia. Tem asilo para um período de um ano formalmente; porém, imagino que os russos estão dispostos a estendê-lo indefinidamente. Me preocupa o acosso jornalístico no qual ele esteve envolvido junto com nossa jornalista Sara Harrison, que esteve envolvida no caso Snowden e passou 39 dias com ele no aeroporto de Moscou após o voo desde Hong Kong. Ela o protegeu e ajudou com a apresentação das solicitações. Ela permanece na Rússia; ela é do Reino Unido. Como bem sabemos, o jornal The Guardian se considera como associado de Glenn Greenwald, que foi detido no aeroporto de Londres por atos de terrorismo, sem acusação formal. Foi iniciada uma investigação formal acerca de todas essas pessoas, uma investigação formal do caso terrorista.
A postura do Reino Unido é clara. Enquanto encontrem alguém que lhes indique o que devem fazer com esse assunto, o farão. Provavelmente, farão todo o possível para demonstrar seu apoio aos EUA porque pertencem ao mesmo círculo e sentem sua dor. Igual será o GCHQ (Quartel General de Comunicações do Governo). Nos preocupa muito o que possa acontecer com Sara Harrison. No entanto, devemos ter uma visão mais ampla. Existe uma relação muito estreita entre os EUA e o Reino Unido. É óbvio para qualquer um. Pouco a pouco, o Estado de direito sofre um colapso. O mecanismo governamental está acima do povo e do sistema jurídico. O processo jurídico torna-se cada vez mais secreto. Aqui são introduzidas as chaves secretas. Inclusive, o Partido Laborista propõe uma cláusula na legislação para que um soldado não seja criticado, agregando o discurso do ódio. Isso já recorda o protofascismo. É muito difícil dizer isso; porém, creio que é uma definição correta. Os EUA tornam as pessoas extremamente assustadiças. Inclusive, faz com que o The Guardian tenha muito cuidado com suas publicações. Muitos artigos ficam sem publicar. Tornam-se muito predizíveis. Ocultam muitos documentos. O mesmo acontece com os EUA. A partir dessa perspectiva, WikiLeaks é editor. Pensamos que isso está bem. Seremos o único jogador a continuar no jogo. Julian Assange é um ativista da liberdade de expressão. Se essa liberdade lhe é proibida, isso é uma abominação.
Por outro lado, pode-se perceber o cheiro a pólvora no ar e o fervor da batalha entre as pessoas que revelam a informação sobre os crimes do Estado, os crimes de guerra e a violência massiva e aqueles que tentam ocultá-la. Porém, sabe-se qual das partes está ganhando. Trata-se de um sério conflito entre o sistema da segurança nacional no Ocidente, que está crescendo e as pessoas que tentam trazer à luz o que esse sistema faz. Isso está claro. Porém, o que não está claro é qual destes dois bandos está ganhando. Bom, já há vários triunfos importantes. Como dizem muitos jornalistas, "vigiados e processados”
GOLINGER: Podemos falar sobre o filme?
ASSANGE: Bom, o filme ‘El quinto poder’ é… Bem, você já está informada…
GOLINGER: O senhor pensa que esse filme tem como objetivo desacreditar ao senhor e à sua organização?
ASSANGE: Esse filme vem de Hollywood. Sei em que livros foi baseado. Definitivamente, os livros foram uma tentativa de desacreditar... E Dreamworks, por seu lado, recolheu os dois livros mais mentirosos e desacreditados entre dezenas de outros livros que estão acessíveis. Creio que isso vem de um âmbito particular. Não sei se foi a tentativa dos realizadores do filme; mas, esse foi o resultado. As resenhas sobre o filme têm sido bastante regulares. Creio que, com a informação que publicamos sobre isso, conseguimos demonstrar com êxito que não se trata da história fidedigna. É interessante que Disney, dos EUA, que é responsável pela distribuição lá, publicava meus cartazes com a palavra "traidor”, escrita sobre meu rosto. É um conceito ridículo, porque sou australiano. Como poderia ser traidor dos EUA em teoria? É um tipo de difamação.
Creio que, finalmente, as pessoas começam a tornar-se imunes a esse tipo de ataques. Hão sido tantos com o passar do tempo; as pessoas estão vendo a saga de WikiLeaks; têm visto muitos desses ataques e, acabam concluindo que não é verdade. Por isso, creio que não seremos afetados pelo filme.
GOLLINGER: Lamentavelmente, temos que ficar por aqui; não temos mais tempo; porém, são temas de profundo interesse para o mundo. Vocês têm feito um trabalho extraordinário que tem aberto um grande debate em âmbito mundial e agradecemos muitíssimo a presença hoje em nosso programa, Julian Assange, obrigada por estar no Detrás de la Noticia.
Como sempre, podem seguir-me via Twitter @evagolinger e através de meu blog en actualidad.rt.com. Muito obrigada por estar conosco senhor Assange e até a próxima.
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