terça-feira, 24 de setembro de 2013

UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL E DE INCLUSÃO SOCIAL.

Papa ataca economia por venerar "deus do dinheiro"
 
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"Perdoem-me por estas duras palavras, mas onde não há trabalho falta dignidade", exclamou o Papa
O papa Francisco atacou neste domingo o sistema econômico em vigor no mundo que tem como "ídolo o dinheiro", durante um comovente encontro na ilha da Sardenha com desempregados e empresários afetados pela grave crise econômica que atinge a Itália.
"Vamos lutar todos juntos contra o ídolo dinheiro, contra um sistema sem ética, injusto, no qual o dinheiro manda", afirmou, arrancando aplausos e lágrimas dos presentes.
A dura condenação do Papa foi pronunciada pouco depois de sua chegada à ilha, às 08h15 locais (03h15 de Brasília), onde foi acolhido por centenas de pessoas reunidas ao longo do percurso decorado com bandeiras com as cores do Vaticano (branco e amarelo), assim como da Argentina e da Sardenha.
A visita de Francisco à ilha italiana foi programada pelo próprio Papa para homenagear a Virgem de Bonária, padroeira da Sardenha, que deu origem ao nome de sua cidade natal, Buenos Aires.
Depois de percorrer as avenidas que conduzem ao centro de Cagliari, onde centenas de pessoas se reuniam, o Papa se encontrou em um palco externo instalado de frente para o porto com representantes do mundo do trabalho, entre eles um trabalhador desempregado, uma empresária em crise e um agricultor.
"Aos jovens desempregados, aos que têm um emprego precário, aos empresários e comerciantes com problemas para seguir adiante, expresso minha solidariedade", disse. "É uma realidade que conheço bem pela experiência que tive na Argentina. Por isso digo a vocês: Coragem! Temos que encarar este desafio histórico com solidariedade e inteligência", acrescentou.
Abandonando o discurso preparado, o Papa contou os sofrimentos de sua família, que emigrou para a Argentina no início do século XX.
"Meu pai partiu cheio de sonhos e sofreu a crise de 29. Perderam tudo, não havia trabalho. (...) Falavam disso, senti esse sofrimento, conheço-o bem", confessou.
Durante o encontro, o pontífice também lembrou sua primeira visita, no início de julho, a uma outra ilha italiana, a siciliana Lampedusa, para dar alívio e consolo aos imigrantes ilegais que atravessam o Mediterrâneo em embarcações precárias.
"Mas aqui também vejo sofrimento", reconheceu, ao se referir à crise econômica da Sardenha, marcada por um alto nível de desemprego, que alcança 18% e afeta, sobretudo, os jovens.

Sem trabalho não há dignidade
"Perdoem-me por estas duras palavras, mas onde não há trabalho falta a dignidade", exclamou o Papa.
"Vivemos as consequências de uma decisão mundial, de um sistema econômico que leva a esta tragédia", explicou. "Duas gerações de jovens não têm trabalho, assim o mundo não tem futuro", disse.
"Para defender este sistema idólatra, provocam a queda dos extremos mais frágeis, os idosos, que não têm um lugar nesse mundo. Trata-se de uma eutanásia escondida. Também caem os jovens, que não encontram sua dignidade", acrescentou.
Ao término do encontro, o Papa visitou a igreja de Nossa Senhora da Bonária e presidiu uma missa em frente ao santuário, pronunciando o tradicional ngelus dominical diante de 350.000 pessoas, segundo a emissora local, enquanto a diocese falava de 100.000 fiéis.
"Bom domingo e bom almoço", concluiu o Papa, aplaudido ao ritmo de "Francisco, Francisco" e depois de ter pedido a proteção da Virgem para "nossos irmãos em dificuldade".
Durante a tarde o pontífice se reunirá com pobres, detidos e representantes do mundo da cultura.
"É a mesma pessoa que conheci quando era o arcebispo de Buenos Aires. Com a mesma humildade, simplicidade e capacidade de comunicação que está revolucionando o mundo", comentou Mauricio Marci, o chefe de governo da cidade de Buenos Aires, que chegou da Argentina para acompanhar a cerimônia acompanhado de um pequeno grupo de argentinos originários da Sardenha.

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