Barcarena em meio aos grandes projeto
na Amazônia
Os grandes projetos na Amazônia provocaram e continuam
a provocar muitos passivos sociais e ambientais em Barcarena. Os mais comuns
são a pressão sobre os recursos naturais, o remanejamento de populações
consideradas tradicionais, o aumento populacional da cidade, a elevação do
preço da terra e de aluguéis. Tudo isso é realidade nas comunidades do
município que abrigam as principais industriais da cadeia produtiva do alumínio,
do caulim e portos.
O processo de urbanização no município coaduna-se com
a chegada do projeto ALBRAS/ALUNORTE, na década de 1980. As empresas integravam
o portfólio da Vale, hoje Norsk Hydro. As radicais transformações consistiram
na expulsão de grupos familiares de seus sítios, na desagregação das famílias
camponesas, onde a terra perde a condição de fornecedor de meio de
subsistência, para transformar-se em mercadoria.
Os grandes projetos constituem-se em principal
instrumento da política desenvolvimentista concebida pelo governo militar de
1964. Aos olhos dos estrategistas, a Amazônia não passava de um vazio
demográfico. Indígenas, ribeirinhos, quilombolas e tantas outras variações do
campesinato local nunca existiram na cabeça dos militares.
Atualmente apenas uma pequena parcela da população de Barcarena
se dedica às atividades agrícolas, isso mostra o quanto é importante o apego a
terra. Mesmo com todas as intervenções praticadas, a pequena agricultura,
embora de forma restrita ainda resiste.
A pesca artesanal também é considerada uma atividade
fundamental para a sobrevivência da população local. Existem poucos pescadores,
a quantidade de peixe sofreu forte redução em função das várias contaminações dos
rios e o constante trânsito de navios que trazem e levam matéria prima para as
empresas.
A realidade das comunidades atingidas pelos grandes
projetos é apresentada de forma mais crua pelos filhos dos agricultores e
pescadores, que no momento das desapropriações eram crianças. Hoje, adultos,
não encontram terra suficiente para plantar, Por isso não podem ser
agricultores, nem tão pouco pescadores, já que a pesca ficou inviável. Por
outro lado, também não tiveram a oportunidade de estudar para adquirir uma
profissão que os habilitassem a trabalhar nas empresas. Hoje eles não possuem,
a princípio, as condições adequadas para pleitear um emprego na região. Restaram
para estas gerações o direito de assistir ao crescimento espantoso das empresas
e perceber o quanto o sonho de trabalhar ficou distante.
Durante estes longos anos nunca foi apresentado
qualquer projeto de inclusão para os jovens de Barcarena. Do outro lado, as
empresas apresentam um grande crescimento econômico, e esquecem a dívida
social, que se amplifica, ao longo dos anos de exploração. Estes passivos não existem por acaso, e sim
por descaso de mais de três décadas dos poderes municipal, estadual e
federal.
Gilvandro Santa Brígida – Sociólogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário