quarta-feira, 25 de setembro de 2013

BARCARENA EM MEIO AOS GRANDES PROJETO NA AMAZONIA



Barcarena em meio aos grandes projeto na Amazônia

Os grandes projetos na Amazônia provocaram e continuam a provocar muitos passivos sociais e ambientais em Barcarena. Os mais comuns são a pressão sobre os recursos naturais, o remanejamento de populações consideradas tradicionais, o aumento populacional da cidade, a elevação do preço da terra e de aluguéis. Tudo isso é realidade nas comunidades do município que abrigam as principais industriais da cadeia produtiva do alumínio, do caulim e portos.  
O processo de urbanização no município coaduna-se com a chegada do projeto ALBRAS/ALUNORTE, na década de 1980. As empresas integravam o portfólio da Vale, hoje Norsk Hydro. As radicais transformações consistiram na expulsão de grupos familiares de seus sítios, na desagregação das famílias camponesas, onde a terra perde a condição de fornecedor de meio de subsistência, para transformar-se em mercadoria.
Os grandes projetos constituem-se em principal instrumento da política desenvolvimentista concebida pelo governo militar de 1964. Aos olhos dos estrategistas, a Amazônia não passava de um vazio demográfico. Indígenas, ribeirinhos, quilombolas e tantas outras variações do campesinato local nunca existiram na cabeça dos militares. 
Atualmente apenas uma pequena parcela da população de Barcarena se dedica às atividades agrícolas, isso mostra o quanto é importante o apego a terra. Mesmo com todas as intervenções praticadas, a pequena agricultura, embora de forma restrita ainda resiste.
A pesca artesanal também é considerada uma atividade fundamental para a sobrevivência da população local. Existem poucos pescadores, a quantidade de peixe sofreu forte redução em função das várias contaminações dos rios e o constante trânsito de navios que trazem e levam matéria prima para as empresas.
A realidade das comunidades atingidas pelos grandes projetos é apresentada de forma mais crua pelos filhos dos agricultores e pescadores, que no momento das desapropriações eram crianças. Hoje, adultos, não encontram terra suficiente para plantar, Por isso não podem ser agricultores, nem tão pouco pescadores, já que a pesca ficou inviável. Por outro lado, também não tiveram a oportunidade de estudar para adquirir uma profissão que os habilitassem a trabalhar nas empresas. Hoje eles não possuem, a princípio, as condições adequadas para pleitear um emprego na região. Restaram para estas gerações o direito de assistir ao crescimento espantoso das empresas e perceber o quanto o sonho de trabalhar ficou distante.
Durante estes longos anos nunca foi apresentado qualquer projeto de inclusão para os jovens de Barcarena. Do outro lado, as empresas apresentam um grande crescimento econômico, e esquecem a dívida social, que se amplifica, ao longo dos anos de exploração.   Estes passivos não existem por acaso, e sim por descaso de mais de três décadas dos poderes municipal, estadual e federal.  
                       Gilvandro Santa Brígida – Sociólogo

Nenhum comentário:

Postar um comentário