MANIFESTAÇÃO EM CONTRÁRIO
Perdão a países africanos impulsiona empresas brasileiras
11/08/2013 - 03h00
Perdão a países africanos impulsiona empresas brasileiras
ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
A
renegociação de quase US$ 800 milhões (R$ 1,8 bi)em dívidas de nove
países africanos, levada adiante pelo governo Dilma Rousseff neste ano,
já tem rendido frutos para empresas brasileiras.
Bastante
criticada no campo político por beneficiar governos de legitimidade
questionável, a decisão de perdoar parte dos valores devidos por países
africanos já abriu caminho para vendas brasileiras que superam em mais
de 20 vezes os valores perdoados ao país comprador.
§ http://f.i.uol.com.br/folha/images/bullet.gif);">Apoio brasileiro a governos autoritários da África recebe críticas
É
o caso do Senegal, que, em março, teve descontados US$ 3 milhões dos
US$ 6,5 milhões (R$ 14,8 mi) devidos ao Brasil. No mês seguinte, o
governo do país comprou três aviões Super Tucano, da Embraer, e dois
navios-patrulha, da Emgepron (vinculada ao Ministério da Defesa).
As
duas compras envolverão um financiamento de US$ 120 milhões (R$ 273 mi)
do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) --sendo
US$ 67 milhões para os aviões e US$ 53 milhões para os navios.
Editoria de Arte/Folhapress
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A concessão de financiamentos pelo BNDES não era possível enquanto o país possuía dívidas com o Brasil.
Nesta
semana, em nota, o Itamaraty defendeu o perdão, destacando que a ação
"não é um voluntarismo brasileiro", mas uma prática para impedir que o
peso da dívida "se transforme em impedimento do crescimento econômico e
da superação da pobreza" desses países.
Diplomatas ouvidos pela Folha foram
unânimes em dizer que o perdão dos valores devidos vai impulsionar
investimentos brasileiros nesses países, que são cortejados, em
especial, pela China.
"Vários
países sérios já fizeram isso para alavancar novos negócios: você zera o
passado para abrir novas perspectivas. Se o Brasil não fizer isso, está
dando um tiro no pé, porque outros países vêm e fazem negócios", disse o
embaixador do Brasil no Gabão, Bruno Cobuccio.
Nas
últimas semanas, duas missões do Gabão --país que obteve em maio um
"desconto" de 15% da dívida de US$ 24 milhões-- estiveram no Brasil para
estudar a compra de 200 ônibus da empresa Marcopolo e de até 30
caminhões de lixo da empresa Planalto.
Uma
missão da Embraer também esteve no país africano para negociar a venda
de aviões executivos, e o ministro da Indústria e das Minas do Gabão,
Regis Immongault, veio ao Brasil em julho para encontros com a Vale.
HIDRELÉTRICAS
Na
Tanzânia, onde a dívida a ser renegociada é de US$ 237 milhões (R$ 620
mi), empreiteiras como a Odebrecht e a Queiroz Galvão miram projetos de
construção de duas hidrelétricas e dois aeroportos --inclusive o da
capital, Dodoma --que podem somar mais de US$ 3 bilhões (R$ 6,8 bi),
segundo fontes do governo brasileiro.
O
maior projeto seria para a construção da hidrelétrica de Stiegler's
Gorge, no rio Rufiji, estimado em US$ 2 bilhões. A Odebrecht confirmou
que faz "estudos de viabilidade do projeto" da usina --que poderá ser a
quinta maior da África--, mas não confirmou o valor.
O
país também tem uma forte presença da Petrobras, que atualmente explora
dois blocos na costa tanzaniana e teria interesse em parte da
exploração de outros quatro, segundo a Folha apurou.
Em
julho, a empresa anunciou a constituição de uma joint venture com o BTG
Pactual para investir e administrar ativos na exploração e produção em
países como a Tanzânia. Procurada, a empresa não se pronunciou.
Além do Senegal, o Congresso já autorizou o perdão de 79% e 90% das dívidas do Congo e do Sudão, respectivamente.
No
Congo, país que recebeu o maior desconto entre todos --US$ 278 milhões
(R$ 632 mi)--, uma das presenças mais fortes é da Andrade Gutierrez, que
está construindo duas rodovias e desenvolvendo obras de urbanização na
capital, Brazaville.
Tânia Rêgo - 10. abr. 13/ABr
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O ministro da Defesa, Celso Amorim, e o ministro das Forças Armadas do Senegal, Augustin Tine, em acordo para venda de aviões
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'MAUS PAGADORES'
Para
o diplomata Roberto Abdenur, embaixador nos EUA entre 2004 e 2007, no
entanto, é preciso ter cautela para abrir créditos a países que até
agora deviam ao Brasil.
"Você
está zerando a conta de países que não nos pagaram para abrir novos
créditos que terão de ser perdoados", afirma Abdenur. "Países nessas
condições continuarão a ser maus pagadores."
O
governo brasileiro, contudo, defende que os países estão "em um outro
momento" do que quando contraíram as dívidas, nas décadas de 70 e 80.
"A
Tanzânia tem hoje um nível de endividamento de 45%, abaixo dos 50% que é
considerado sustentável pelo FMI", diz o embaixador brasileiro na
Tanzânia, Francisco Luz. "A tendência agora é de crescimento, pelo gás
natural encontrado, reservas de carvão, ouro, diamantes."
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