O desafio do aumento da produtividade
Por Mansueto Almeida do IPEA
Há hoje no Brasil uma preocupação com o aumento
da produtividade. Uma economia cresce pela incorporação de mão de obra no
processo produtivo, pelo aumento do investimento em capital físico (máquinas e
equipamentos) e pelo uso mais eficiente que se faz desses fatores, o que os
economistas chamam de "produtividade total dos fatores (PTF)" - produzir mais
produtos com a mesma quantidade de mão de obra e capital empregados.
Não há na teoria econômica uma lei rígida que
diga que o crescimento da produtividade antecede ou decorre da acumulação de
capital e trabalho. É possível que surtos de crescimento comecem pelo maior uso
de fatores de produção ociosos, que levaria a um crescimento da produtividade,
como é possível o contrário, reformas econômicas tornariam a economia mais
eficiente (aumento de produtividade), o que estimularia o aumento do
investimento.
É consenso entre economistas que o crescimento
sustentável de uma economia está ligado ao crescimento da produtividade total
dos fatores. Mas exatamente o que um país pode fazer para que a produtividade
cresça mais depressa não é consensual.
Para alguns economistas, a forma de aumentar a
taxa de crescimento da produtividade é deslocando fatores de produção de
atividades "tradicionais" para as que, pela sua própria natureza, exigem o
emprego de mão de obra mais qualificada e investimento maior em pesquisa e
desenvolvimento (P&D), o que levaria a mais inovação. Em uma linguagem mais
simples, seria melhor investir na indústria farmacêutica e em indústrias
intensivas em tecnologias do que no setor de vestuário e calçados.
O problema com esse tipo de argumento é que, se
todos os países do mundo quisessem incentivar apenas um conjunto de empresas em
atividades intensivas em tecnologia, quase todos produzirão medicamentos e
eletrônicos e uns poucos produzirão alimentos. No final, pode até ser mais
vantajoso para alguns países produzirem soja e cobrar um fortuna do resto do
mundo.
Adicionalmente, o mundo do século XXI é diferente
da dicotomia clássica da primeira metade do século XX, quando atividades
agrícolas e extrativas eram necessariamente sinônimos de baixa produtividade.
Esse não é mais o caso. Alguns produtos agrícolas são mais intensivos no uso de
tecnologia do que a montagem de alguns produtos eletrônicos.
No mundo atual é cada vez mais difícil apostar em
setores. A tecnologia está embutida tanto em remédios e carros, quanto em
roupas, sapatos e alimentos. Assim, a preocupação não deveria ser com o que um
país produz, mas como se produz.
Outro grupo de economistas argumenta que é muito
difícil planejar a composição setorial de um país. Assim, o que possibilitaria
um crescimento mais rápido da produtividade seria maior abertura da economia,
que levaria a uma melhor alocação dos fatores de produção; a melhoria do
ambiente de negócios, que permitiria que as firmas de baixa produtividade fossem
expulsas do mercado pelas de maior produtividade; maior investimento em educação
e reformas que tornassem mais flexíveis o funcionamento do mercado de trabalho;
recuperação de dívidas, etc.
É verdade que o termo "reformas econômicas" é
genérico demais para se transformar em uma agenda clara de política econômica.
Por exemplo, as reformas econômicas feitas na China desde 1978 foram todas
parciais, um conjunto de "remendos mal acabados" em um país com o mínimo de
segurança jurídica, mas que funcionaram. Nem por isso, deve-se desprezar ou
subestimar a importância das reformas macro e microeconômicas.
Primeiro, melhorar os investimentos em educação e
ter um esforço contínuo de melhoria da qualidade, mesmo que depois o trabalhador
queira plantar maçã e não produzir circuitos integrados, ajuda o crescimento da
produtividade da economia. Adicionalmente, uma mão de obra mais escolarizada
torna mais fácil a transferência de tecnologia de outros países e inovação no
"chão da fábrica".
Segundo, facilitar a abertura e fechamento de
empresas e diminuir a burocracia não será a solução para o nosso problema de
competitividade, mas contribui com esse objetivo.
Terceiro, incentivar P&D e inovação em todos
os setores é algo que também ajuda o crescimento da produtividade, ainda mais se
incentivos à inovação forem acompanhados de maior concorrência decorrente da
maior abertura comercial. O Brasil ainda é uma economia excessivamente fechada e
o país com menor relação importação e Produto Interno Bruto (PIB), segundo o
Banco Mundial.
O que ninguém pode garantir é a magnitude do
efeito das "reformas econômicas" no crescimento do PIB, nem mesmo a defasagem
entre aprovação de reformas e o seu efeito no crescimento. A agenda de reformas
não deve ser entendida como uma "força tarefa" para mudar a economia em um ou
dois anos, mas como um esforço contínuo para melhorar o funcionamento da
economia de mercado. A agenda de reformas nunca termina.
Adicionalmente, no caso do Brasil, não há como o
Estado ajudar individualmente as mais de 4,5 milhões de empresas que existem,
segundo Cadastro Nacional de Pessoal Jurídica (CNPJ) do IBGE. Não é solução
também dar tratamento privilegiado para algumas poucas e criar "enclaves de
produtividade". É por isso que medidas horizontais são importantes.
No curto prazo, a melhor forma de aumentar o
crescimento do Brasil é com o aumento do investimento privado e público. No
longo prazo, que perpassa o governo atual, não há alternativa que não seja a
retomada da agenda de reformas, mesmo que essa retomada ocorra de forma
gradual.
Mansueto Almeida é pesquisador do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A opinião expressa é a do
autor, não exprimindo o ponto de vista do instituto.
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