quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ESTRUPO NA MINERAÇÃO



A Vale anuncia que a principal jazida do melhor minério de ferro do mundo será exaurida ao longo de 40 anos. Trinta anos antes, quando deu início à sua atividade em Carajás, no Pará, a previsão era de que a mineração se prolongaria por 400 anos, mas só considerando o volume de minério que podia ser lavrado a céu aberto e com volume ainda não completamente avaliado. Se as frentes de extração em Carajás seguirem o planejamento da empresa, essa história não irá além de um século.
Trinta anos antes a Vale não teria a tranquilidade que ostenta ao anunciar que o maior investimento da sua história e o maior que está sendo realizado no momento em todo mundo, no valor de quase 20 bilhões de dólares, terá duração de 40 anos.
Haveria reação, mesmo ainda sob um governo militar, o último, em seus estertores, do ciclo da ditadura. Sem dúvida, reação do pessoal técnico. Provavelmente, da opinião pública também. Jamais um vaticínio dessa gravidade seria recebido sob o silêncio sepulcral de hoje, o que explica a tranquilidade da Vale.
O açodamento da mineradora na consumação do destino de Serra Sul tem sua razão no receio de que haja reflexão um pouco mais atenta por parte da sociedade sobre o que significa submeter um patrimônio tão valioso a um processo de exploração tão intenso, visando exportar maciçamente um bem praticamente in natura.
Aos preços de hoje, apenas Serra Sul proporcionará uma receita média anual de quase 10 bilhões de dólares. No período de quatro décadas, o faturamento atingirá US$ 400 bilhões, 20 vezes o valor do investimento.
Parece muito, mas não é. Cálculos feitos a partir do beneficiamento do minério bruto chegarão a valores incomparavelmente superiores. A Vale não está se importando com o que pode ocorrer na escala de transformação do seu produto. Ela é apenas mineradora (ou, cada vez mais, uma empresa de logística que faz circular minério por seus trens, portos e navios) e ponto final. Para a nação, isso é um crime.
Como empresa privada (que, efetivamente, não é: continua a ser, de direito, mesmo que não de fato, empresa privada, por mero oportunismo e má fé do governo federal), ela pode até justificar a estratégia de passar a tirar 250 milhões de toneladas anuais de Carajás, a partir de 2017 (10 vezes mais do que o máximo de produção previsto no projeto original), e remeter essa riqueza além-oceanos.
Tal volume de minério singrando entre os oceanos já reforçaria o peso mundial da mineradora. Mas trata-se do minério que mais contém hematita de toda a crosta terrestre. Não há nenhum outro semelhante ao de Carajás. Assim, se o preço do minério no mercado internacional cair até pela metade (de 100 para 50 dólares a tonelada, por exemplo), a Vale será das poucas que ainda terá margem de lucro para sobreviver. Graças à excepcional qualidade do produto que comercializa e à facilidade em extraí-lo do sobsolo, através de lavra a céu aberto.
Esse seguro contra qualquer crise de mercado e em favor da hegemonia da companhia é estabelecido à revelia do interesse nacional. Se o Brasil ainda tivesse uma política mineral, não permitiria o saque alucinado sobre Serra Sul.
Guardaria essa reserva para o futuro, desenvolvendo pesquisas e realizando experimentos com minérios menos nobres. Ao mesmo tempo, fomentaria a atividade industrial, para impedir essa prática colonial de exportar matéria prima.
Há no momento um caso exemplar a servir de patética advertência contra a atitude assumida pela Vale. As obras da ferrovia Norte-Sul, que foram retomadas na tentativa de concluir um trecho empacado há vários anos (entre Palmas, a capital do Tocantins e Anápolis, em Goiás), pode parar de novo. É que faltam trilhos.
Dois anos atrás, a Vale, responsável pela obra, teve que cancelar um contrato com a firma chinesa Dismaff, por causa da má qualidade do material (além de irregularidades administrativas). Uma nova licitação foi realizada. Quem a venceu foi outra empresa do dono da Dismaff.
O contrato foi novamente questionado pelo Tribunal de Contas da União. Para tentar encontrar outro interessado, a Vale fracionou a compra em lotes de 30 mil toneladas cada. Se, diretamente ou por via oblíqua, a Dismaff for de novo a vencedora, a construção da ferrovia terá que parar.
A pergunta óbvia que se faz é: por que o Brasil, tão rico em minério de ferro, não fabrica trilhos, estando em andamento um plano nacional de novas ferrovias? Nem sequer trilhos o Brasil pode fabricar. Recorre a produtos chineses, que, nesse caso, não parecem estar sendo fabricados com o minério de Carajás, do qual a China é a maior compradora.
Certamente a penetração chinesa nesse mercado deve-se ao baixo preço da mercadoria que oferece. Mas já não há dúvida de que ela não tem a qualidade exigida, como não tem o cimento que em escala crescente é importado de lá. O motivo dessa preferência é o preço: o cimento chinês atravessa os mares e chega a Belém do Pará, a terra do minério, por um preço que é praticamente a metade daquele praticado pela Cibrasa (do grupo João Santos, do cartel nacional) nas suas duas fábricas paraenses – aliás, implantadas com a colaboração do governo federal, através de renúncia fiscal.
Os brasileiros continuarão a assistir, desinteressados, a esses absurdos, que resultam de uma prática ofensiva aos interesses estaduais, regionais e nacionais? O silêncio em relação a essa situação não é daqueles que o filósofo considera de ouro, em comparação com a palavra, apenas prateada. É um silêncio de quem, considerando inevitável o estupro, relaca e aproveita.

BARCARENA DESENVOLVIMENTO PARA QUEM?





O Município de Barcarena passa por muitos problemas sócios - ambientais, devido um modelo de desenvolvimento atrasado, criado durante os anos de chumbo no Brasil, o programa grande Carajás (PGC). Hoje é imprescindível dialogar com as pessoas atingidas, pois é a partir deste diálogo que  se podem buscar caminhos para um desenvolvimento que harmonize o crescimento econômico com o bem-estar da população.
A consciência política das pessoas cresceu muito em Barcarena, não estamos mais em uma Ditadura militar. Hoje temos muitos movimentos sociais que estão preocupados com o futuro das novas gerações no município, e o poder público não pode fingir que não vê.  Por isso, têm sido criados mecanismos para aumentar a consciência das pessoas e promover a mudança de comportamentos, o Conselho Municipal de Meio Ambiente é um órgão criado para este fim, através dele órgãos públicos empresas, políticos e organizações da sociedade civil debatem e procuram soluções para o uso dos recursos naturais e para a recuperação dos danos ambientais.

O conselho de meio ambiente, antes de tudo deve ser um instrumento de democracia, infelizmente não é o acontece em nosso município, já que o conselho municipal de meio ambiente não foi eleito democraticamente ele é pasmem, biônico.  

A população atingida não acredita mais em uma solução que a beneficie, está sem esperança, a secretaria executiva de ciência, tecnologia e Meio Ambiente(sectam), e a secretária de meio ambiente do município órgãos responsáveis pelo monitoramento ambiental são omissos, assim a impunidade como nas mortes no campo no Pará, impera também na questão ambiental em Barcarena.

O estado com sua ganância desenvolvimentista fecha os olhos para os problemas sociais e ambientais provocados pelos projetos instalados na região, quando não reconhece um dos principais atores do desenvolvimento que é a população atingida, deixando-os a margem das discussões e principalmente quando banaliza os acidentes ambientais ocorridos, preferindo entender estes como um mal necessário. Hoje temos nas localidades de vila do Conde e Itupanema e caripi inúmeras famílias de pescadores e barraqueiros passando necessidades devido os acidentes ambientais e que precisam ser amparados.
 As empresas e tão pouco o poder público não estão preocupados com o bem estar destas famílias, pois todos se omitem  preferindo o silêncio.  Elas pessoas precisam acreditar em outro sinônimo para o desenvolvimento que não seja DESTRUIÇÃO. 

Gilvandro Santa Brígida
Sociólogo    

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

UM ACIDENTE QUE FICOU MARCADO NA HYDRO ALUNORTE BARCARENA



Um olhar sobre o acidente na HYdro Alunorte
Repensar paradigmas

No dia 23 de março de 2012, fez três meses do acidente que tirou a vida do nosso companheiro Zacarias, foi o primeiro acidente ocorrido com um trabalhador da empresa Hydro Alunorte em 16 anos de operação. Para nós, companheiros de trabalho uma perda irreparável, para seu pai, mulher e filha não temos como medir. 
O acidente ocorrido no dia 23 de dezembro jogou por terra toda a gestão de segurança da Hydro Alunorte e deveria fazer a empresa repensar toda a sua maneira de fazer segurança. Infelizmente não é isso que está ocorrendo, às decisões tomadas apontam para um lado que conhecemos muito bem na empresa. A demissão de todos os envolvidos no acidente mostra a mesma prática de anos anteriores, a empresa sempre ataca o efeito e não a causa do acidente. Os quatro trabalhadores foram sumariamente demitidos.
Outro fator que banalizou a gestão de segurança da empresa foi a limpeza feita no local depois do acidente que descaracterizou totalmente o lugar e atrapalhou muito a investigação do acidente. O que a empresa tentou omitir com essa limpeza? A simulação aconteceu em um local que em nenhum momento representava o verdadeiro ambiente do acidente. Tudo isso colocou em xeque o resultado da investigação e ao invés de esclarecer está gerando dúvidas nos trabalhadores.
Em 2012 já tivemos vários acidentes, dois com afastamento do trabalho, se a decisão for pela demissão dos envolvidos teremos mais trabalhadores sem empregos, trabalhadores com anos de experiências. Quanto tempo levará para formar novos profissionais com o conhecimento dos empregados demitidos? O problema está na gestão de segurança que deve ser revista, ela não pode ser apenas para inglês ver ou mais precisamente para norueguês ver.
Os acidentes de trabalho não podem continuar sendo explicados como fatalidade, com se fosse uma coisa natural. Devem ser tratados como resultado de falhas de gestão dos processos produtivos, na maioria das vezes evitáveis por meio da prevenção. De todos os acidentes ocorridos na Empresa devemos fazer uma reflexão e promover a mudança de comportamento no interior da empresa. Devemos envolver todos os trabalhadores, pois na maioria das vezes, as pessoas diretamente envolvidas na discussão, são as vítimas ou os profissionais tecnicamente responsáveis pelo gerenciamento dos riscos. O ideal seria fazer uma reflexão coletiva que viesse a contaminar as consciências com a cultura da segurança. Mas isso é utopia; consciências não se contaminam; consciências são formadas por meio de um lento processo de educação.
Nós temos que trabalhar para que não aconteçam novamente acidentes na empresa. A cultura da segurança compreende comportamento, capacitação, investimentos, manutenção, fiscalização, participação, tecnologia, enfim, uma série de fatores que dependem de ações contínuas e do acúmulo de experiência. Educação para a prevenção é isso que precisamos. A morte do companheiro Zacarias não pode ser em vão.


Gilvandro Santa Brígida
Sociólogo/Coordenador da Oposição Sindical na Hidro Alunorte