sexta-feira, 9 de maio de 2014

EUA e Brasil serão potências energéticas, diz estudo.

EUA e Brasil serão potências energéticas, diz estudo

·         Economista-chefe da Agência Internacional de Energia vê grandes alterações no setor e na geopolítica
Navio-plataforma na Bacia de Santos: pré-sal vai mudar posição brasileira no setor
Foto: Divulgação / Divulgação
Navio-plataforma na Bacia de Santos: pré-sal vai mudar posição brasileira no setorDivulgação / Divulgação
NOVA YORK - O economista-chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, está seguro de que o mercado de energia global passa por uma transição que fará os Estados Unidos e o Brasil emergirem como grandes potências. Com os EUA prestes a se tornar um exportador de energia excedente e o Brasil aumentando a produção nos campos de petróleo de águas profundas, o turco - responsável pelo “World energy outlook”, publicação anual que é considerada a principal fonte de análises estratégicas do setor e cuja edição de 2013, que deu destaque ao Brasil, foi divulgada no início de dezembro - falou sobre as mudanças na paisagem competitiva da área a uma plateia de empresários e jornalistas no Council on Foreign Relations, em Nova York. Apesar desses novos recursos, diz Birol, o petróleo de baixo custo do Oriente Médio continuará tendo papel central no futuro próximo.
- Alguns países que têm sido importadores de energia por muitos anos estão virando exportadores, como os Estados Unidos, em termos de gás natural. E o Brasil, em 2015, será um exportador de petróleo significativo.
Birol chama a atenção para o Oriente Médio, que influencia o mercado global de petróleo como produtor, mas já provoca efeitos como consumidor.
- Em poucos anos, o consumo de petróleo no Oriente Médio será equivalente ao da China hoje. O Oriente Médio vai consumir tanto petróleo quanto a China amanhã. E isso tem uma série de implicações, na geopolítica, nos mercados de petróleo, no preço - diz.
Sobre os efeitos geopolíticos do boom do gás não convencional nos Estados Unidos:
- Acredito que o secretário de Estado americano se sente nas negociações internacionais de forma mais confortável do que ele e seu antecessor faziam há um par de anos, antes da revolução do gás não convencional.
‘Botaram um peso enorme nas costas da Petrobras’
De acordo com o “World Energy Outlook”, em 2035 a produção de petróleo no Brasil vai triplicar, chegando a seis milhões de barris por dia. Apesar da estimativa, o economista-chefe da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, critica o governo brasileiro:
- Nossos números são menores do que os do governo porque os investidores terão de se alinhar às regulamentações governamentais. Acho que botaram um peso enorme nas costas da Petrobras. O Brasil terá de investir cerca de US$ 1,6 trilhão em 20 anos. Para comparar, o Oriente Médio precisa de US$ 1,1 trilhão.
Uma mudança importante no setor energético, de acordo com o economista, diz respeito a padrões do comércio de energia.
- Para os canadenses, a vida era muito simples. Eles produziam energia e a mandavam aos Estados Unidos. Mas o país precisa menos de energia do Canadá, e precisará cada vez menos. Outro caso é a Rússia, que tinha um antigo e leal cliente, a Europa, cuja demanda não cresce.
Birol cita fatos preocupantes:
- As emissões de dióxido de carbono continuam crescendo, e dois terços destas emissões vêm do setor de energia. Em segundo lugar, hoje, 1,3 bilhão de pessoas, um quinto da população mundial, não têm eletricidade, em África subsaariana, Índia, Paquistão, Bangladesh. Nosso estudo diz que, sem maiores intervenções, ainda teremos em 20 anos ao menos um bilhão de pessoas sem acesso à eletricidade.
Fontes renováveis: sem avanço
Radicado em Paris, Birol se diz otimista quanto à Conferência do Clima que a capital da França vai sediar em 2015:
- Tenho fé por duas razões: as emissões dos Estados Unidos baixaram aos níveis dos anos 1990 e há uma administração indicando que seria formidável deixar um legado neste sentido. A segunda razão é a China: sua estabilidade econômica depende da despoluição nas cidades.
Ele também critica a dependência do mundo de fontes de energia não-renováveis:
- Há 25 anos, quando o movimento (em direção a recursos renováveis) iniciou, a porção de combustíveis minerais no mix global era de 82%. Hoje, depois de tudo, é 82%.

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