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Direitos Humanos
Ex-delegado admite ter matado pessoas e incinerado corpos durante a ditadura
Adital: www.adital.com.br
Ex-delegado
do DOPS do Estado do Espírito Santo, que afirma ter executado seis ou
sete pessoas a mando da repressão militar, e incinerado os corpos de
outras 13. Cláudio Guerra prestou depoimento à Comissão Nacional da
Verdade (CNV) esta semana, no qual também afirmou que o coronel Freddie
Perdigão Pereira, morto em 1998, que atuou no Doi-Codi de São Paulo e na
Casa da Morte de Petrópolis (Estado do Rio de Janeiro), e coordenou o
atentado do Riocentro, provocou o acidente que resultou na morte da
estilista Zuzu Angel, em abril de 1976.
Zuzu
era mãe do desaparecido Stuart Angel e mobilizou a opinião pública
nacional e estrangeira em busca de seu filho. A repercussão do caso
prejudicou a imagem do regime militar no exterior. "Éramos confidentes,
frequentávamos a casa um do outro. Um dia, ele me disse que havia
planejado simular o acidente dela e estava preocupado, pois achava que
havia sido fotografado na cena do crime pela perícia", afirmou o
delegado ao coordenador da Comissão, Pedro Dallari, e aos membros da CNV
José Carlos Dias e Paulo Sérgio Pinheiro, que colheram seu depoimento.
Guerra
foi condenado e cumpriu pena por três tentativas de homicídio,
resultantes de um atentado à bomba do qual participou nos anos 80 no
Espírito Santo. Na cadeia converteu-se ao Cristianismo, tornou-se pastor
da Assembleia de Deus e afirma querer fazer sua parte "para que uma
página triste de nossa história seja passada a limpo".
Em
seu depoimento, Guerra afirmou que incinerou os corpos de 12 militantes
políticos e que assassinou e incinerou em seguida um tenente de nome
Odilon, numa "queima de arquivo determinada pelo SNI". O ex-delegado
contou também que executou, a pedido do Serviço Nacional de Informações,
três militantes em São Paulo, um em Recife e "dois ou três" no Rio. "Se
cumprisse pena por tudo o que fiz nunca iria sair da cadeia", afirmou.
Perguntado
sobre qual o motivo de um delegado de outro Estado ser chamado para
executar militantes políticos perseguidos em outros locais, Guerra, que
afirma ter aprendido técnicas de tiro com um ex-agente do Mossad
(serviço secreto israelense), afirmou que a técnica era uma medida
previamente estabelecida pela repressão para não vincular autoridades
locais aos assassinatos praticados pela ditadura. Ele admitiu, por
exemplo, que no caso de pelo menos uma das pessoas que ele matou, as
autoridades simularam depois que houve um tiroteio.
Na
avaliação do coordenador da CNV, Pedro Dallari, os principais pontos do
depoimento de Guerra foram a indicação da participação de Freddie
Perdigão Pereira na morte de Zuzu Angel, já reconhecida pelo Estado como
uma morte relacionada à sua militância, mas cujo assassinato jamais foi
admitido por agentes da repressão, e o fato de o depoimento trazer
elementos que mostram as graves violações de direitos humanos de
oposicionistas do regime como uma política de Estado da ditadura.
O arquivo da transmissão ao vivo do depoimento de Cláudio Guerra já está disponível: http://us.twitcasting.tv/cnv_brasil/movie/82575654.
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