Jornal do Terra
Kennedy discutiu ação militar para depor Jango da Presidência em 1963
O
ex-presidente americano John F. Kennedy cogitou uma intervenção militar
dos Estados Unidos ao Brasil para depor o então presidente brasileiro,
João Goulart, o Jango, em outubro de 1963. O líder da Casa Branca se
reuniu com o embaixador americano no Brasil naquela época, Lincoln
Gordon, e com outras autoridades nos dias 7 e 8 de outubro de 1963 - em
22 de novembro do mesmo ano, Kennedy foi assassinato a tiros. Durante a
reunião, o presidente dos EUA perguntou ao embaixador: "acha
aconselhável que façamos uma intervenção militar?". As informações são
do jornalista Elio Gaspari e foram publicadas em seu site, Arquivos da Ditadura.
O
conteúdo da reunião foi gravado por Kennedy, e revela que os EUA se
preparavam para utilizar força armada para que Jango deixasse o poder.
Após a morte de Kennedy, a intervenção militar americana não foi
necessária - apenas o apoio diplomático de seu sucessor, Lyndon B.
Johnson, garantiu que os militares brasileiros promovessem o golpe de
Estado em 1º de abril de 1964.
Nos
dias 7 e 8 de outubro de 1963, a reunião convocada por Kennedy discutiu
a situação do Brasil e do Vietnã. As autoridades americanas temiam que
Jango implementasse medidas de reformas de base, em um País com
instituições e economia em crise.
No
primeiro dia, Kennedy e Gordon discutiram o contexto brasileiro, e
deixaram claro que os EUA estavam preparados para intervir militarmente
se o governo de Jango aprofundasse a plataforma de esquerda. Gordon
iniciou a reunião expondo a situação brasileira, explicando que a crise
no País se acentuara com a renúncia do presidenteJânio Quadros em
1961 - que foi sucedido pelo vice, Jango, que causava preocupações aos
americanos por suas ligações com sindicalistas e ativistas de esquerda.
Kennedy
interrompeu o embaixador e disse: "temos alguma decisão imediata para
pressioná-lo?", referindo-se a Jango. "O que devemos fazer imediatamente
no campo político? Nada?", questionou o presidente. Gordon, então,
disse que havia dois planos: "Goulart abandona a imagem (de esquerdista) e resolve pacificamente, ou talvez não tão pacífico: ele pode ser tirado involuntariamente".
O
embaixador ainda perguntou: "vamos suspender relações diplomáticas,
econômicas, ajuda, todas essas coisas? Ou vamos encontrar uma maneira de
fazer o que todo mundo faz?". Então, Kennedy pediu o conselho de
Gordon: "você vê a situação indo para onde deveria, acha aconselhável
que façamos uma intervenção militar?".
O
embaixador, então, disse que os diplomatas trabalhavam com a
possibilidade de intervenção caso o presidente brasileiro desse mais
sinais de afinidade com a esquerda, influenciado por "velhos amigos",
como chamou Gordon - referindo-se, entre eles, a Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango.
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