NSA é acusada de interceptar computadores para 'plantar' spyware
Revista
alemã Der Spiegel publicou artigo que cita documentos secretos e acusa a
NSA de também instalar backdoors em produtos Juniper, Cisco, Huawei e
Dell
Uma
unidade especial de hacking da Agência Nacional de Segurança americana
(NSA) estaria interceptando rotas de entregas de novos computadores para
'plantar' spyware nas máquinas. A acusação é parte da reportagem publicada neste domingo, 29/12, pela revista alemã Der Spiegel.
Citando
acesso da documentos secretos, artigo explica que o método é chamado de
"interdiction" (interdição) e seria uma das mais bem sucedidas
operações conduzidas pela divisão Tailored Access Operations (TAO), da
NSA, que é especializada em infiltrar computadores. "Se uma pessoa,
agência ou companhia que está sendo investigada encomenda um computador
ou equipamentos, por exemplo, a TAO pode desviar a entrega para suas
oficinas secretas", diz o artigo.
As
oficinas secretas, chamadas de "load stations" (estações de carga)
intalariam malware ou componentes de hardware que dariam à NSA acesso a
esse computador, descreve o artigo. A Der Spiegel não diz como obteve os
documentos secretos, embora seja sabido que ela é uma das empresas de
mídia que possuem material vazado pelo ex-contratado da NSA, Edward
Snowden. Ele não é mencionado na história, que tem como co-autora a
cineasta Laura Poitras, a quem Snowden contatou.
A Der Spiegel escreve ter visto em um "catálogo de produtos"
de 50 páginas da NSA a descrição de uma divisão chamada "ANT",
especializada em acesso técnico a produtos de companhias como a
fabricante de firewall Juniper Networks, as gigantes de produtos de
redes Cisco Systems e Huawei Technologies e a fabricante de computadores
Dell. "Para qualquer tipo de fechadura, a ANT parece ter uma chave em
sua caixa de ferramentas", afirma o artigo.
Em
outra apresentação interna da NSA é mostrado que a agência teria acesso
a relatórios automáticos de falhas enviados por computadores para a
Microsoft, afirma a Der Spiegel. A revista afirma que a apresentação
indica que a NSA pode "pescar" esses relatórios num mar de tráfego de
internet usando a ferramenta XKeyscore, um recurso de monitoramento de
internet revelado em julho de 2013 pelo jornal inglês The Guardian.A interceptação dos relatórios "parece ter pouca importância em termos práticos", diz a revista, mas oferece insights sobre o computador da pessoa que está sendo vigiada.
Outro documento top-secret descreve os esforços da NSA para invadir o cabo submarino de telecomunicações SEA-ME-WE-4, que sai da França até a Tailândia e conecta a Eurpa à África do Norte e Oriente Médio. Segundo a Der Spiegel, em 13 de fevereiro a divisão TAO "teve sucesso da captura de informações sobre a gestão da rede" para o cabo, incluindo informação do Layer 2 que mostra o mapa de circuitos.
A revista Der Spiegel descreve também algumas da atividades de exploração de computadores da TAO, que incluem tentativas de redirecional computadores da pessoa vigiada para servidores controlados pela agência que podem "plantar" software espião. A NSA e sua parceira britânica GCHQ, usariam uma ferramenta chamada QUANTUMINSERT para rastrear a navegação de internet das pessoas e, em momentos oportunos, direcionar o computador para um dos seus servidores FOXACID.
Um dos documentos mencionados pela Der Spiegel mostra que o QUANTUMINSERT teria mais sucesso quando as pessoas estavam tentando visitar a rede social profissional LinkedIn. A taxa de sucesso, nesse caso, seria de 50%.
Até a noite de domingo a NSA não tinha se manifestado a respeito da reportagem.
Leia mais.
Requião diz que Brasil deveria oferecer asilo a Edward Snowden como sinal de gratidão
O
senador Roberto Requião (PMDB-PR) manifestou seu apoio a concessão de
asilo político, pelo Brasil, ao ex-agente da Agência Nacional de
Segurança dos Estados Unidos (NSA), Edward Snowden, que denunciou um
amplo esquema de espionagem norte-americano em solo brasileiro e em
outros países do mundo.Para Requião, o Brasil, especialmente, tem uma dívida com Edward Snowden, em razão das revelações acerca das espionagens de que o país foi e continua sendo alvo. Para ele as revelações de Snowden representaram um poderoso alerta para que o Brasil preserve sua soberania e se guarde contra a devassa de nossas informações e a quebra de nossos sigilos.
- Precariamente abrigado na Rússia, Snowden precisa de toda a liberdade para se movimentar e falar. O exercício da liberdade que ele quis preservar denunciando os serviços de espionagem dos Estados Unidos, precisa ser garantido para ele, aqui em nosso território, como uma manifestação clara de agradecimento à sua coragem ao fazer as denúncias.
Requião fez ainda um alerta à presidente da República, Dilma Rousseff, a fim de que o Brasil não celebre acordo bilateral com o Mercado Comum Europeu, para ele desvantajoso para o país. De acordo com o parlamentar, o acordo poderá prejudicar a indústria brasileira, especialmente de eletrodomésticos e automóveis, provocando o fechamento de fábricas aqui instaladas.
EDWARD
SNOWDEN mostra provas do sistema vigilância mundial de espionagem para
monitoramento de como vivemos, com quem conversamos e o que dizemos.
Por asilo, Snowden promete ajudar Brasil
No texto abaixo, intitulado "Carta Aberta ao Povo do Brasil", Snowden diz que a reação do país às suas revelações foi "inspiradora".
No texto abaixo, intitulado "Carta Aberta ao Povo do Brasil", Snowden diz que a reação do país às suas revelações foi "inspiradora".
CARTA ABERTA AO POVO DO BRASIL
EDWARD SNOWDEN
EDWARD SNOWDEN
Seis
meses atrás, emergi das sombras da Agência Nacional de Segurança (NSA)
dos EUA para me posicionar diante da câmera de um jornalista.
Compartilhei com o mundo provas de que alguns governos estão montando um
sistema de vigilância mundial para rastrear secretamente como vivemos,
com quem conversamos e o que dizemos.
Fui
para diante daquela câmera de olhos abertos, com a consciência de que a
decisão custaria minha família e meu lar e colocaria minha vida em
risco. O que me motivava era a ideia de que os cidadãos do mundo merecem
entender o sistema dentro do qual vivem.
Meu
maior medo era que ninguém desse ouvidos ao meu aviso. Nunca antes
fiquei tão feliz por ter estado tão equivocado. A reação em certos
países vem sendo especialmente inspiradora para mim, e o Brasil é um
deles, sem dúvida.
Na
NSA, testemunhei com preocupação crescente a vigilância de populações
inteiras sem que houvesse qualquer suspeita de ato criminoso, e essa
vigilância ameaça tornar-se o maior desafio aos direitos humanos de
nossos tempos.
A
NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa
própria "segurança" --em nome da "segurança" de Dilma, em nome da
"segurança" da Petrobras--, revogaram nosso direito de privacidade e
invadiram nossas vidas. E o fizeram sem pedir a permissão da população
de qualquer país, nem mesmo do delas.
Hoje,
se você carrega um celular em São Paulo, a NSA pode rastrear onde você
se encontra, e o faz: ela faz isso 5 bilhões de vezes por dia com
pessoas no mundo inteiro.
Quando
uma pessoa em Florianópolis visita um site na internet, a NSA mantém um
registro de quando isso aconteceu e do que você fez naquele site. Se
uma mãe em Porto Alegre telefona a seu filho para lhe desejar sorte no
vestibular, a NSA pode guardar o registro da ligação por cinco anos ou
mais tempo.
A
agência chega a guardar registros de quem tem um caso extraconjugal ou
visita sites de pornografia, para o caso de precisarem sujar a reputação
de seus alvos.
Senadores
dos EUA nos dizem que o Brasil não deveria se preocupar, porque isso
não é "vigilância", é "coleta de dados". Dizem que isso é feito para
manter as pessoas em segurança. Estão enganados.
Existe
uma diferença enorme entre programas legais, espionagem legítima,
atuação policial legítima --em que indivíduos são vigiados com base em
suspeitas razoáveis, individualizadas-- e esses programas de vigilância
em massa para a formação de uma rede de informações, que colocam
populações inteiras sob vigilância onipresente e salvam cópias de tudo
para sempre.
Esses
programas nunca foram motivados pela luta contra o terrorismo: são
motivados por espionagem econômica, controle social e manipulação
diplomática. Pela busca de poder.
Muitos
senadores brasileiros concordam e pediram minha ajuda com suas
investigações sobre a suspeita de crimes cometidos contra cidadãos
brasileiros.
Expressei
minha disposição de auxiliar quando isso for apropriado e legal, mas,
infelizmente, o governo dos EUA vem trabalhando arduamente para limitar
minha capacidade de fazê-lo, chegando ao ponto de obrigar o avião
presidencial de Evo Morales a pousar para me impedir de viajar à América
Latina!
Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir com minha capacidade de falar.
Seis
meses atrás, revelei que a NSA queria ouvir o mundo inteiro. Agora o
mundo inteiro está ouvindo de volta e também falando. E a NSA não gosta
do que está ouvindo.
A
cultura de vigilância mundial indiscriminada, que foi exposta a debates
públicos e investigações reais em todos os continentes, está desabando.
Apenas
três semanas atrás, o Brasil liderou o Comitê de Direitos Humanos das
Nações Unidas para reconhecer, pela primeira vez na história, que a
privacidade não para onde a rede digital começa e que a vigilância em
massa de inocentes é uma violação dos direitos humanos.
A
maré virou, e finalmente podemos visualizar um futuro em que possamos
desfrutar de segurança sem sacrificar nossa privacidade.
Nossos
direitos não podem ser limitados por uma organização secreta, e
autoridades americanas nunca deveriam decidir sobre as liberdades de
cidadãos brasileiros.
Mesmo
os defensores da vigilância de massa, aqueles que talvez não estejam
convencidos de que tecnologias de vigilância ultrapassaram perigosamente
controles democráticos, hoje concordam que, em democracias, a
vigilância do público tem de ser debatida pelo público.
Meu
ato de consciência começou com uma declaração: "Não quero viver em um
mundo em que tudo o que digo, tudo o que faço, todos com quem falo, cada
expressão de criatividade, de amor ou amizade seja registrado. Não é
algo que estou disposto a apoiar, não é algo que estou disposto a
construir e não é algo sob o qual estou disposto a viver."
Dias
mais tarde, fui informado que meu governo me tinha convertido em
apátrida e queria me encarcerar. O preço do meu discurso foi meu
passaporte, mas eu o pagaria novamente: não serei eu que ignorarei a
criminalidade em nome do conforto político. Prefiro virar apátrida a
perder minha voz.
Se
o Brasil ouvir apenas uma coisa de mim, que seja o seguinte: quando
todos nos unirmos contra as injustiças e em defesa da privacidade e dos
direitos humanos básicos, poderemos nos defender até dos mais poderosos
dos sistemas.
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