EUA vigiam computador mesmo sem ter internet mundo, afirma jornal
Agência instalou programas espiões em 100 mil máquinas, diz 'NY Times'
Alvos da ação estariam fora do país; Obama já prometera anunciar amanhã mudanças no sistema de espionagem
RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON
A
Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês)
instalou programas de vigilância em cerca de 100 mil computadores no
mundo, segundo publicou o jornal "The New York Times" a partir de
documentos vazados pelo ex-técnico da agência Edward Snowden.
Mesmo
computadores fora da internet foram atingidos usando radiofrequência, a
partir de cartão USB instalado fisicamente por uma pessoa no computador
vigiado.
O
jornal diz que aparentemente o sistema não foi usado domesticamente,
mas em objetivos internacionais. Entre os alvos mais frequentes da
espionagem por esse sistema estão as Forças Armadas da China e da
Rússia, a polícia e os cartéis do narcotráfico do México, organismos que
lidam com negociações comerciais na União Europeia e países onde há
presença de células terroristas, como Índia e Paquistão.
A
versão modernizada da radiofrequência chamada de Quantum, utilizada
desde 2008, usa um canal secreto de ondas de rádio que pode ser
transmitido por cartões USB instalados secretamente nos computadores. A
informação é obtida por estações que podem estar a milhares de
quilômetros do objetivo.
A
porta-voz da NSA Vanee Vines disse ao jornal que a NSA "não usa
serviços de inteligência para roubar segredos comerciais em benefício de
empresas americanas".
MUDANÇAS LIMITADAS
A
revelação ocorre às vésperas do esperado anúncio das mudanças no
sistema de espionagem pelo presidente americano, Barack Obama, previsto
para amanhã no Departamento de Justiça.
Também
segundo o "New York Times", Obama deverá aumentar os limites ao acesso
dos dados de ligações telefônicas, estabelecer proteções à privacidade
de não americanos e criar um cargo de defensor público para representar
as preocupações sobre quebra de privacidade no atual tribunal secreto de
inteligência.
Mas
o presidente deve manter os dados de ligações telefônicas nas mãos do
governo (e não exclusivamente com as companhias telefônicas, como
proposto por uma comissão independente) e não deve exigir que todas as
consultas e pesquisas sobre essas ligações dependam de autorização
judicial.
As
fontes do "NYT" na Casa Branca não revelaram mais detalhes sobre o que
deve mudar na espionagem no resto do mundo, especialmente em relação aos
governos e chefes de Estado estrangeiros que se queixaram da
vigilância, como o Brasil.
O
discurso no Departamento de Justiça será a primeira resposta detalhada
desde as denúncias de Snowden, feitas em junho passado.
Obama deve remeter parte das propostas de reforma da NSA ao Congresso, para dividir a responsabilidade.
Dois
grupos estão insatisfeitos com as mudanças: as organizações de direitos
humanos e parte do eleitorado do próprio presidente, que esperavam que
ele reduzisse a escala da espionagem, ampliada na gestão George W. Bush;
e as agências de inteligência e espionagem, para as quais Obama não tem
defendido seu trabalho, que sofre mais escrutínio desde os atentados do
11 de Setembro.
Para
estes últimos, as mudanças podem dificultar e fazer demorarem os
procedimentos para investigações sobre potenciais terroristas.
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