Eis porque dizem que o dólar pode acabar em 2 ou 3 anos
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Por Francisco Vianna, em 16 Jul 2014
Há
exatamente 70 anos, do dia de hoje, centenas de delegados de 44 nações
estavam aferrados ao trabalho, em Bretton Woods, no pequeno estado
americano de New Hampshire, para criarem um novo sistema financeiro para
o mundo livre. A II Guerra Mundial tinha acabado de terminar e a Europa
estava em ruínas.
E,
uma vez que os EUA eram, simultaneamente, a maior economia do mundo, o
principal vencedor da guerra, e a única grande potência com sua
capacidade produtiva intacta, não foi difícil para os americanos ditarem
seus termos: o dólar iria dominar o novo sistema financeiro mundial.
Cada nação passaria a acumular dólares como moeda de reserva primária, e
o dólar seria trocado por ouro a razão de 35 dólares por onça do metal.
Além disso, o comércio global seria realizado e liquidado em dólares e
esses assentamentos abririam através do sistema bancário dos EUA.
Naturalmente,
isso criou uma demanda substancial de moeda americana por governos
estrangeiros que precisavam começar a acumular dólares para garantir
suas reservas e equilibrar o comércio internacional. Assim, através de
uma variedade de programas, desde o Plano Marshall ao FMI e o Banco
Mundial, os EUA começaram a inundar o mundo com dólares.
Inicialmente
tudo correu conforme o planejado. Mas logo o governo dos EUA percebeu
que algo importante na demanda estrangeira pelo dólar foi tão forte que
eles passaram a impressão de ter mais dólares do que tinham em ouro.
Isto lhes permitiu executar todos os tipos de déficits e iniciativas de
gastos – mais guerra, mais bem-estar, mais lixo... – tudo com
responsabilidade mínima. Inicialmente, as consequências foram
insignificantes. Claro que o preço do ouro em Londres foi alguns dólares
mais elevado do que nos EUA (eles chamavam isso de "janela do ouro").
Mas a demanda para o dólar ainda era forte. Então, por que se preocupar
em mudar, não é mesmo?
Em
1971, a situação já tinha ficado muito pior. Outra década de guerra e
os gastos excessivos, os déficits comerciais e a impressão de dinheiro
sem lastro já havia empurrado muitas nações estrangeiras para situações
pré-falimentares. As reservas em dólar das nações estrangeiras superaram
as participações do governo dos EUA em ouro. E, com a confiança em
declínio, muitos começaram a resgatar seus dólares por ouro.
Apenas
alguns dias depois disso, Richard Nixon pôs um fim a isso e rescindiu
unilateralmente a conversibilidade do dólar dos EUA ao ouro. Estava
anulado o padrão ouro como base de lastro do dólar no mundo.
Pense
agora sobre a magnitude dessa decisão: Nixon efetivamente deu "um
calote de colarinho branco" nas obrigações norte-americanas para com o
resto do mundo – uma traição completa de sua confiança e aos princípios
do capitalismo privado. No entanto, apesar de tal choque enorme
redefinir o sistema financeiro global, o dólar de alguma forma conseguiu
manter-se a moeda número um da reserva financeira do mundo.
Você
acha que os EUA deviam ter sido gratos, dando graças à sua 'estrela da
sorte' pelo fato de o resto do mundo lhes dar uma segunda chance? Mas
não. Ao longo dos últimos 43 anos, os EUA continuaram a imprimir,
desvalorizar e vilipendiar o dólar.
Depois,
outro democrata 'progressista', Bill Clinton, agravou muito mais as
coisas usando o incipiente capitalismo de estado americano para
corromper todas as medidas de segurança do mais poderoso sistema
bancário do mundo e forçá-lo a por em prática, ainda que de modo
indireto, o distributivismo socialista de crédito para que "todos os
americanos pudessem adquirir, mesmo sem poder, suas casas próprias e
outras coisinhas mais típicas do 'sonho de estilo de vida americano'".
A
bolha do subprime então cresceu vertiginosamente e explodiu na cara
daqueles que compraram os falsos papéis 'tóxicos' do Banco Central
Americano, o FED, mas que acabou gerando um tsunami no ambiente
financeiro internacional cujas consequências ainda não foram totalmente
contornadas.
Ao
longo desse caminho, o FED criou outras bolhas não tão épicas e choques
financeiros não tão destrutivos que atingiram direta ou indiretamente
todas as demais nações do planeta. Essas nações, por sua vez, passaram a
correr atrás dos maiores déficits e atingir níveis de endividamento
jamais vistos na história do mundo. Brigavam internamente ao ponto de
tentarem desligar seus governos de suas economias. O bloco da União
Europeia, que tentava se transformar numa espécie de "Estados Unidos da
Europa" empacou e seus países membros voltaram a se aferrar aos seus
nacionalismos tradicionais. Bom isso, na medida em que o bloco voltou a
ser apenas um bloco econômico, para desânimo da Alemanha.
O
Congresso americano fez aprovar regulamentos dolorosamente arrogantes e
que forçaram o resto do mundo a embarcar, sob ameaças, em algo
equivalente a um homicídio financeiro. Puseram suas autoridades fiscais e
valores mobiliários para aterrorizar qualquer um que não fizesse
negócios com os EUA ou que passassem a fazer negócios com países
desafetos dos americanos.
A
Casa Branca e o FED ignoraram totalmente os apelos estrangeiros para a
reestruturação do FMI e do Banco Mundial. Surraram os bancos
estrangeiros com multas recordes, simplesmente por fazer negócios com
outras nações que não fossem os EUA ou que os EUA não gostassem.
Acontece
que o lastro real para as emissões de moeda, em dólares, autorizadas
pelo FED americano, na verdade, era o montante da dívida dos demais
países com Washington, dívida essa que não poderia ser liquidada quer
com dólares quer com qualquer outro metal ou valor de mercadoria
disponível, inclusive o petróleo.
Assim
sendo, o Tesouro americano encontrou afinal uma "fórmula" para receber
essa dívida do resto do mundo: imprimir dólares. E apesar dos trilhões
impressos, acreditem, eles ainda têm muitos outros a receber do resto do
mundo, que ajudaram a conhecer a maior prosperidade de todos os tempos:
a ocorrida na segunda metade do século XX.
Os
países que hoje querem sair desse redemoinho financeiro, como os BRICS,
se esforçam para instituir um novo padrão financeiro para o mundo e
para o comércio internacional. Todavia, a dívida para com os americanos
ainda é grande demais e muitos não acreditam que conseguirão o que
pretendem, mesmo porque, com exceção da China, suas ambições extrapolam
os limites do econômico e invadem perigosamente o âmbito do político.
Em
todo o caso, desde a supressão do padrão ouro pela administração
democrata de Richard Nixon, qualquer tipo de calote pode ser considerado
a partir desse calote americano. O que não sabem é se podem arcar com
as consequências disso.
Se
isso for possível sem guerra, o dólar deverá desaparecer como padrão
monetário internacional em questão de dois a três anos. Caso contrário
continuará a financiar a "pax americana", como a maioria parece desejar.
Na
verdade, procura-se uma nova Bretton Woods para o mundo atual... Mas o
Grupo de Bilderberg não parece disposto a incluir o tema em sua agenda.
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segunda-feira, 21 de julho de 2014
BRICS & Bretton Woods: Eis porque dizem que o dólar pode acabar em 2 ou 3 anos.
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