Jornal do Terra
Comissão da Verdade de SP declara que Juscelino Kubitschek foi assassinado pela ditadura militar
POR RODRIGO RODRIGUES
A
Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, nominada “Comissão Vladimir
Herzog” e liderada pela Câmara Municipal, declarou nesta segunda-feira
(09) que não há dúvidas sobre o assassinato do ex-presidente da
República, Juscelino Kubitschek, morto num acidente de carro em 1976.
Em
relatório que será apresentado nesta terça-feira (10) na Câmara, o
presidente da comissão, vereador Gilberto Natalini (PV), diz ter mais de
90 indícios, evidências e provas de que o JK não sofrera apenas um
acidente de carro que o vitimou em 22 de agosto de 1976, durante viagem
de carro na Rodovia Presidente Dutra, no Rio de Janeiro.
"Não
temos dúvida de que Juscelino Kubitschek foi vítima de conspiração,
complô e atentado político. Há provas documentais e testemunhos
importantes, em mais de 29 páginas do relatório que será apresentado
amanhã”, conta Gilberto Natalini.
Depoimentos
Há
cerca de um mês e meio, a Comissão da Verdade ouviu o depoimento do
motorista Josias Nunes de Oliveira, hoje com 69 anos, apontado durante a
Ditadura como o responsável pelo acidente que provou a morte do
ex-presidente.
Na
ocasião do depoimento, Oliveira disse que depois do acidente dois
homens ofereceram, na delegacia e na casa dele, dinheiro para que
assumisse a culpa pelo acidente de 76.
O
motorista dirigia o ônibus Cometa que bateu contra o carro do
ex-presidente, matando Kubitschek e o motorista do carro, Geraldo
Ribeiro, que na época dirigia o Chevrolet Opala adorado pelo
ex-mandatário brasileiro. “Eles foram na minha casa e disseram que se eu
não aceitasse o dinheiro e assumisse a culpa, eles bateriam em mim”,
declarou aos vereadores Josias Nunes de Oliveira.
Além
de Josias, a Comissão Municipal ouviu Serafim Jardim, que era
secretário particular de Juscelino naquela ocasião; Paulo Castelo
Branco, que solicitou a reabertura das investigações do caso em 1996;
Paulo Oliver, um dos 33 passageiros do ônibus dirigido por Oliveira; e
Gabriel Junqueira Villa Forte, filho do proprietário do hotel no qual o
ex-presidente ficou hospedado antes do acidente fatal daquela noite.
No
depoimento dado à comissão em Agosto, Serafim Melo Jardim disse ter
certeza de que JK vinha sendo vigiado. "Acompanhei o presidente desde
que voltou do exílio. Sempre que viajávamos ele dizia: "Estão querendo
me matar", afirmou o ex-secretário, que acompanhou JK durante os últimos
nove meses de vida.
Fraudes
Na
época do acidente, Juscelino Kubitschek tinha 73 anos e havia
recuperado os direitos políticos cassados pelo regime militar pouco
tempo antes. Ele sempre fora tido como “inimigo dos militares” e
“ameaça” à estabilidade política daquele período.
Segundo
o vereador Gilberto Natalini, a partir desses quatro depoimentos a
Comissão começou a investigar o caso e chegou ao veredicto: “Em cima
desses depoimentos, fomos atrás de documentos que comprovassem as
informações. Descobrimos laudos falsos, erros processuais e de perícia
que nos levaram a declarar que Juscelino Kubitschek fora vítima de uma
conspiração”, afirma o presidente da comissão.
Os
documentos que comprovam a linha de raciocínio defendida pela comissão
paulistana serão apresentados em reunião de amanhã, às 11h00 da manhã,
na Câmara.
A
partir do momento que o relatório for público, a Comissão Vladimir
Herzog deve encaminhar os documentos para Brasília, no intuito de que a
Comissão Nacional da Verdade também declare o assassinato de Juscelino
Kubitschek. “É um caso de Justiça para com os brasileiros, a família do
ex-presidente e a história do nosso país”, aponta Natalini, que também
já foi perseguido político, torturado pelos militares na época do regime
de exceção pela operação Oban.
Direitos cassados
Além
da declaração de complô contra JK, a Comissão Vladimir Herzog realiza
nesta segunda-feira (09) uma cerimônia onde vai restituir o mandato para
42 ex-vereadores, cassados em São Paulo por crimes de opinião,
perseguição política e de cunho ideológico.
Os
mandatos incluem não apenas os crimes praticados pelos militares da
junta de presidentes não eleitos que governou o País após 1964, mas
também de todo o período anterior, até 1939.
Além
de comunistas e socilistas, a lista incluí dois militantes de extrema
direita e do antigo Partido Integralista, de Plínio Salgado. "São
personagens cujo único crime foi declarar preferência partidária e
ideológica. Independente de que lado estavam, tinham o direito da livre
opinião e foram censurados. Apenas dois deles estão vivos. Mas através
das famílias, queremos demonstrar a nossa solidariedade e preservação da
memória desses valorosos parlamentares", explica Natalini.
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