ENTREVISTA - DELFIM NETTO
TUDO SOBRE A DITADURA MILITAR
Quem quebrou o Brasil foi Geisel, afirma Delfim
Ex-ministro diz que resistência a abrir setor de petróleo arruinou o país
Segundo economista, falta de atenção dada à educação básica foi um 'erro mortal' do regime militar
ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO
A resistência do ex-presidente Ernesto Geisel em abrir a exploração do petróleo à iniciativa privada quando comandou a Petrobras, no governo Médici, levou a economia brasileira à falência no fim da década de 70.
A afirmação é do economista Antonio Delfim Netto, ex-ministro de diversas pastas da área econômica durante o regime militar.
"Quem quebrou o Brasil foi o Geisel", diz Delfim.
Dependente da importação da commodity, o Brasil sofreu as consequências das fortes altas de preços ocorridas em 1973 e 1979.
Folha - Qual era a situação econômica quando o senhor assumiu a Fazenda?
Delfim Netto - A situação econômica estava caminhando. Você tinha na verdade uma grande modernização da economia. Mas tinha grandes problemas também.
Delfim Netto - A situação econômica estava caminhando. Você tinha na verdade uma grande modernização da economia. Mas tinha grandes problemas também.
Por que vocês reverteram a decisão do governo Castello de dar independência ao BC?
Você estava com uma recessão profunda, um desemprego terrível e o Banco Central insistia em fazer uma política econômica restritiva com o objetivo de mudar a expectativa inflacionária. O custo disso era uma barbaridade. Então foi isso que acabou com a tal independência.
Você estava com uma recessão profunda, um desemprego terrível e o Banco Central insistia em fazer uma política econômica restritiva com o objetivo de mudar a expectativa inflacionária. O custo disso era uma barbaridade. Então foi isso que acabou com a tal independência.
O aumento da concentração de renda incomodava?
A desigualdade incomoda. Como você não podia atacar outra coisa, o processo político transformou a desigualdade numa coisa muito mais significativa porque todos estavam melhorando. Todos melhoraram, só que uns melhoraram mais do que os outros e a distância entre nós estava crescendo.
A desigualdade incomoda. Como você não podia atacar outra coisa, o processo político transformou a desigualdade numa coisa muito mais significativa porque todos estavam melhorando. Todos melhoraram, só que uns melhoraram mais do que os outros e a distância entre nós estava crescendo.
Havia cobrança?
Ah sim, o que se poderia fazer era aumentar enormemente a oferta de gente que tinha o beneficio da educação, principalmente de universidade. E isso foi feito. Você teve um aumento dramático de vagas nas universidades. Mas isso não produz efeito instantâneo.
Ah sim, o que se poderia fazer era aumentar enormemente a oferta de gente que tinha o beneficio da educação, principalmente de universidade. E isso foi feito. Você teve um aumento dramático de vagas nas universidades. Mas isso não produz efeito instantâneo.
Por outro lado o ensino básico foi deixado de lado?
O ensino básico foi deixado de lado. Acho que aí houve um erro. Na verdade, acho que, desde o Império, nós deixamos o ensino básico na mão da prefeitura. Isso foi um erro mortal. As prefeituras nunca se comoveram com o ensino básico.
O ensino básico foi deixado de lado. Acho que aí houve um erro. Na verdade, acho que, desde o Império, nós deixamos o ensino básico na mão da prefeitura. Isso foi um erro mortal. As prefeituras nunca se comoveram com o ensino básico.
Quais fatores levaram o país a quebrar após os choques do petróleo?
Em 1972, eu estava em Roma numa reunião do Fundo [Fundo Monetário Internacional]. E o Giscard D'Estaing que era o ministro de Finanças da França, tinha ficado muito amigo do Brasil. E ele me disse: olha Delfim, os árabes estão preparando um cartel. Eles vão elevar o preço do petróleo.
Quando voltei para o Brasil, comuniquei isso ao presidente, o presidente convocou uma reunião. Nossa proposta era: vamos abrir a exploração de petróleo. Vamos fazer contrato de exploração de petróleo com empresas privadas, que era para acelerar o processo.
O Geisel se opôs dramaticamente. Quem quebrou o Brasil foi o Geisel. O Geisel era o presidente da Petrobras. A Petrobras passou 20 anos produzindo 120 mil barris por dia. Quando houve a crise do petróleo, as reservas eram praticamente iguais a um ano de exportação, não tinha dívida. A dívida foi feita no governo Geisel.
Em 1972, eu estava em Roma numa reunião do Fundo [Fundo Monetário Internacional]. E o Giscard D'Estaing que era o ministro de Finanças da França, tinha ficado muito amigo do Brasil. E ele me disse: olha Delfim, os árabes estão preparando um cartel. Eles vão elevar o preço do petróleo.
Quando voltei para o Brasil, comuniquei isso ao presidente, o presidente convocou uma reunião. Nossa proposta era: vamos abrir a exploração de petróleo. Vamos fazer contrato de exploração de petróleo com empresas privadas, que era para acelerar o processo.
O Geisel se opôs dramaticamente. Quem quebrou o Brasil foi o Geisel. O Geisel era o presidente da Petrobras. A Petrobras passou 20 anos produzindo 120 mil barris por dia. Quando houve a crise do petróleo, as reservas eram praticamente iguais a um ano de exportação, não tinha dívida. A dívida foi feita no governo Geisel.
Como o senhor via a questão da repressão?
No governo você não tinha a menor informação. Você tinha uma separação completa entre o governo e as Forças Armadas. Uma vez eu perguntei ao presidente Médici e ele disse: "é uma guerra, Delfim. Mas não há tortura".
No governo você não tinha a menor informação. Você tinha uma separação completa entre o governo e as Forças Armadas. Uma vez eu perguntei ao presidente Médici e ele disse: "é uma guerra, Delfim. Mas não há tortura".
Nenhum comentário:
Postar um comentário