segunda-feira, 28 de abril de 2014

STF absolve Collor de crimes de corrupção passiva, falsidade ideolótica e desvio de recursos públicos.


STF absolve Collor de crimes de corrupção e desvio de recursos

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Por Maíra Magro | Valor
BRASÍLIA  -  O Supremo Tribunal Federal (STF) livrou nesta quinta-feira o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) das acusações de desvio de recursos públicos, corrupção passiva e falsidade ideológica, durante seu mandato como presidente da República (1990-1992).
A corte seguiu o entendimento da relatora, a ministra Cármen Lúcia, de que o Ministério Público não conseguiu provar que Collor teve relação direta com um suposto esquema de corrupção e desvio de recursos públicos por meio de contratos de publicidade com o governo federal, nos anos de 1991 e 1992. Além de Collor, participariam desse esquema empresários e o então secretário particular da Presidência, Oswaldo Mero Sales. Só Collor foi julgado pelo STF, pois tem foro privilegiado como senador.
O MPF descreveu o esquema: "Em síntese, a conduta dos denunciados consistia no pagamento de propina pelos empresários aos agentes públicos, depositando-lhes valores em contas bancárias nominadas a pessoas inexistentes ou 'laranjas' mas efetivamente administradas pelos agentes públicos, pagando em seu nome pensões a filhos oriundos de relacionamentos adulterinos, bem como quitando-lhes faturas de cartão de crédito, empréstimos bancários e despesas em hotéis". A vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, usou a teoria do domínio do fato, que saiu vencedora no processo do mensalão, para argumentar que Collor sabia do esquema.
Mas os ministros entenderam que não houve prova concreta da participação de Collor e de que ele teria recebido vantagens de empresários. “Não se cuida de uma denúncia que possa ser tratada como primor de peça", disse a relatora, Cármen Lúcia. "Não há nos autos provas e indícios concretos contra o réu, mas apenas elementos colhidos, mas não provados, nas investigações. Não houve demonstração cabal da certeza dos fatos de que foi acusado. Tem-se assim que a versão do MP não merece guarida”, concluiu. 
A decisão de absolver Collor de todos os três crimes foi tomada por cinco votos a três. Para três ministros (Rosa Weber, Teori Zavascki e o presidente da Corte, Joaquim Barbosa) os crimes de corrupção e falsidade ideológica foram atingidos pela prescrição, por isso não caberia falar diretamente em absolvição – embora os efeitos práticos da decisão sejam os mesmos. Os ministros Cármen Lúcia, Luiz Fux, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Luís Roberto Barroso entenderam por declarar a absolvição. Não estavam presentes os ministros Marco Aurélio Mello, Gilmar Mendes e Celso de Mello.

CAPITALISMO & EXTERMINAÇÃO DO ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL: A saúde na Grécia e a Crise Humanitária.

A saúde na Grécia: crise humanitária

Um terço da população grega não tem segurança social. 40% não tem acesso ao sistema público de saúde e a mortalidade infantil aumentou.


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Sonia Mitralias (*) - Esquerda.net
Esquerda.net

Durante estes últimos quatro anos, padecemos na Grécia de uma política que tem consequências trágicas para as nossas vidas. O desmantelamento das estruturas da saúde pública e a mercantilização da Saúde são os resultados - talvez os piores - da aplicação das políticas impostas pelos memorandos (da troika) dos governos destes últimos anos. O objetivo destas políticas de austeridade é transladar, de forma automática e prioritária, o dinheiro público ao pagamento da dívida e não à satisfação das necessidades básicas da população grega.

A Grécia está em plena crise humanitária. A sua população diminuiu e a esperança de vida reduziu-se em dois anos! Há 3 milhões de pessoas sem cobertura de segurança social, o que equivale a um terço da população, e 40% não tem acesso ao sistema público de saúde. Na sua grande maioria são mulheres e crianças. O desemprego é de 28%, 65 % entre os mais jovens e 67% entre as mulheres jovens.

A tudo isto há que acrescentar um novo dado estrutural: as pessoas pobres e sem segurança social. A redução em 40% da percentagem do PIB dedicada às despesas em saúde pública tem-se traduzido no abandono de práticas institucionalizadas como a vacinação obrigatória, os teste para a identificação da tuberculose nas escolas, as fumigações em massa e a prevenção em geral.

O abandono das políticas de saúde pública e a degradação das condições de habitabilidade bem como da higiene pessoal entre grandes setores da população, por causa do seu empobrecimento, está a traduzir-se no reaparecimento de infeções autóctones que tinham desaparecido, como a malária, o aumento da tuberculose, o aumento do número de pessoas seropositivas em 200%, etc.

Mais em concreto, no que se refere às mulheres, estas têm perdido o seu direito à prevenção de doenças como as hemorroidas por causa da gravidez, o cancro de mama ou infeções, já que um grande número de mulheres vai cada vez menos à consulta médica.

Mas há algo pior: já não existe a saúde reprodutiva das mulheres! O direito das mulheres a dispor do seu corpo e a decidir se querem ter ou não uma criança vê-se constantemente ameaçado, não pela proibição do direito ao aborto, como em Espanha, senão devido ao empobrecimento das mulheres e à mercantilização de bens e serviços. Direitos adquiridos, como os cuidados de qualidade durante a gravidez e o parto, uma educação sexual que baseie as relações sexuais na igualdade, a liberdade e o prazer, livre de violência machista, a capacidade de decidir livremente se queremos ter filhos e em que condições…, constituem hoje uma lembrança longínqua. Por outro lado, o livre acesso a dar a luz e a uma interrupção da gravidez de qualidade, bem como a um bom serviço de planeamento familiar e à anticoncepção pertencem à esfera dos sonhos...
Assistimos a uma rápida diminuição dos nascimentos (-20 %), e a um aumento dos abortos (300.000; um aborto custa 350 euros nos hospitais públicos). Além disso, muitas das interrupções voluntárias da gravidez realizam-se necessariamente fora do hospital, sem assistência médica; uma situação que põe em perigo a vida das mulheres.

A isto junta-se o aumento, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, da mortalidade dos recém-nascidos e a ausência de vacinação para as crianças pobres. Entre 65% e 70% dos meninos são vacinados na medicina privada (a cargo da já escassa economia familiar de pais sem emprego ou sem segurança social) ou não são vacinados... Uma verdadeira bomba relógio sanitária!

Também assistimos ao abandono, por parte de famílias pobres, de crianças em asilos, à explosão de doenças sexuais infeciosas, ao aumento da miséria, das tensões nas relações humanas, do suicídio e, infelizmente, a um aumento galopante da violência dos homens contra as mulheres ( 47%).

O direito da mulher a decidir se quer ter filhos converte-se numa mercadoria nos hospitais públicos que são transformados em empresas. O direito à liberdade da maternidade converte-se num luxo reservado só aos ricos!

Foram adotadas e aplicadas medidas como a derrogação das convenções coletivas, e a redução ou eliminação de uma série de subsídios, previstos nessas convenções, para facilitar a vida das mulheres e a educação das crianças. Pode citar-se como exemplo a abolição dos subsídios por casal, para amas, para creches, para os acampamentos de verão, o parto e os exames pré-natais, bem como a diminuição em 22% do subsídio (equivalente ao salário base) para o cuidado de crianças durante os 6 primeiros meses de vida.

A situação é ainda pior quando se requer que as mulheres grávidas sem segurança social, bem como as mulheres sem documentos legais, cubram o custo de todos os exames médicos e a hospitalização para o parto. Se não podem pagar, criminaliza-se o mais básico dos direitos humanos, o direito à maternidade.

Para dar a luz numa maternidade pública, terão que pagar quantidades exorbitantes: 600 euros por um parto normal e 1.200 euros por uma cesariana. Situação que se agrava para as pessoas imigrantes: 1200 euros por um parto normal e 2.400 euros por uma cesariana. Tudo isso sem contar com as despesas das visitas médicas durante a gravidez e também as dos exames pré-natais. Por causa disso, muitas mulheres dão à luz sem exames médicos prévios!

E se tudo isto não fosse suficiente, os hospitais públicos ameaçam não autorizar a saída e nem conceder a certidão de nascimento, se as mulheres sem segurança social não pagam ou não proporcionam um número de identificação fiscal para que lhes sejam faturadas as despesas, a serem pagas em prestações.

Quando não estão em condições de pagar o parto, então o fisco persegue-as e, se devem mais de 5000 euros, são ameaçadas de prisão e de ver confiscadas as suas propriedades. 

Mas ainda há algo pior! "Os cidadãos não gregos da União Europeia e terceiros países" devem pagar o dobro dos custos de hospitalização. Isto é, duplica-se a quantia exorbitante paga pelo parto e os cuidados médicos, o que afeta essencialmente as pessoas mais pobres do mundo, as mulheres imigrantes e as mulheres refugiadas sem papéis, bem como as mulheres sem segurança social. O resultado é que muitas delas saem do hospital durante a noite com o seu recém-nascido nos braços para não ter que pagar estas quantias, enquanto a administração do hospital, com frequência, não emite a certidão de nascimento se não se paga antecipadamente a conta do hospital.

Neste contexto, chegamos a ter crianças endividadas desde o primeiro dia das suas vidas, crianças fantasmas, não declaradas, que nasceram mas que não existem...

Tudo isto é inaceitável!


Tradução de Mariana Carneiro para o Esquerda.net


(*) Sonia Mitralias pertence ao Comitê grego contra a Dívida. O artigo reproduzido pela Viento Sur  é uma contribuição grega para o Manifesto da Rede Europeia contra a Privatização e Mercantilização da Saúde e da Segurança Social, apresentado em Bruxelas no passado dia 7 de fevereiro. O Manifesto constitui o início de uma campanha coordenada a nível europeu que se irá desenvolver até 25 de maio, data das eleições europeias.

SOBERANIA, DESENVOLVIMENTO AUTÔNOMO & ATRELAMENTO ÀS POLÍTICAS DAS TRANSNACIONAIS.

                                 Noticia
A União Europeia e o fim do Mercosul

O eventual acordo União Europeia/Mercosul será o início do fim do Mercosul e o fim da possibilidade de desenvolvimento autônomo e soberano brasileiro.

Samuel Pinheiro Guimarães
Arquivo

Integração regional e acordos de livre comércio

1. A conveniência da participação do Brasil em esquemas de integração regional e da negociação de acordos de “livre comércio” com países altamente desenvolvidos, e altamente competitivos na área industrial, somente pode ser avaliada a partir da situação real da economia mundial e da economia brasileira que se caracteriza hoje por quatro fatos principais:

• a estratégia dos países desenvolvidos de procurar sair da crise através de políticas agressivas de abertura de mercados de terceiros países, de proteção de sua produção doméstica e de manipulação cambial, que desvaloriza suas moedas;

• a política chinesa de expansão de suas exportações de produtos industriais e de abertura de mercados para seus produtos e para seus investimentos, em especial para a produção de commodities (produtos primários);

• a importância do comércio intra-firma que chega a atingir 60% do comércio mundial, o que torna limitada e bastante retórica o conceito de livre comércio;

• a presença avassaladora de megaempresas multinacionais, e de empresas estrangeiras de menor porte,  na economia brasileira, não só no setor industrial, mas crescentemente no setor de serviços, tais como educação e saúde.

2. A alternativa estratégica, para os países subdesenvolvidos como o Brasil, a uma política de inserção plena e irrestrita na economia mundial é a participação em esquemas de integração.

3. Esta participação pode ocorrer:

a. em esquemas em que se encontram países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, como é o caso do NAFTA, North America Free Trade Agreement, que inclui os Estados Unidos, o Canadá e o México;

b. ou em esquemas em que se encontram somente países subdesenvolvidos, como é o caso do Mercosul, de que participam a Argentina, o Brasil, o Paraguai, o Uruguai e a Venezuela;

c. ou  através de acordos de “livre comércio” bilaterais, como o tratado de livre comércio entre o Chile e os Estados Unidos.

4. No primeiro caso, a economia dos países subdesenvolvidos (e sua política econômica interna e sua política externa) se torna altamente dependente da economia e das políticas praticadas pelo sócio desenvolvido e sobre as quais não tem influência maior por não participar de seu sistema político/administrativo e, portanto, das decisões de política econômica que são adotadas pelo Governo do país desenvolvido.

5. No segundo caso, os países subdesenvolvidos podem formar:

a. uma zona de livre comércio em que os países eliminam os obstáculos tarifários e não tarifários ao comércio intra-zona enquanto mantém suas tarifas aduaneiras nacionais em relação às exportações de empresas situadas em terceiros países extra-zona;

b. uma união aduaneira em que os países eliminam os obstáculos tarifários e não tarifários ao comércio intra-zona e estabelecem uma tarifa aduaneira comum em relação às importações provenientes de empresas situadas em países extra-zona;

c. uma união econômica (e eventualmente monetária) em que os países integrantes da união aduaneira também estabelecem políticas econômicas (cambial, tributária, trabalhista, creditícia etc) comuns.

O Mercosul

6. O Mercosul é uma união aduaneira, denominada de imperfeita, devido à dupla cobrança de impostos de importação, à exclusão de setores, a extensas listas de exceções etc.

7. Desde que o Mercosul foi criado, em 1991, foram os seguintes os seus principais resultados:

a. o comércio entre os países do Mercosul aumentou mais de onze vezes desde 1991  enquanto que o comércio mundial cresceu apenas cinco vezes;

b. a expansão dos investimentos das empresas privadas nacionais dos países participantes em outras economias do Mercosul;

c. o grande influxo de investimentos diretos provenientes de países altamente desenvolvidos, com excedente de capital, e da China, dirigido aos países do Mercosul;

d. o financiamento de obras de infraestrutura nos países do bloco por entidades financeiras de países do Mercosul;

e. a criação de um fundo, o FOCEM, Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul, com contribuições diferenciadas (97 % do Brasil  e da Argentina)  para, através de recursos não reembolsáveis, permitir a realização de obras de infraestrutura, em especial no Paraguai e no Uruguai, que recebem 80% dos recursos,  com o objetivo de reduzir assimetrias entre os países membros do Mercosul e criar melhores condições para o desenvolvimento;

f. o aumento da mobilidade da mão de obra através da assinatura de acordos de residência e de previdência social;

g. a coordenação e o intercâmbio de experiências em programas sociais, em especial no campo de combate à pobreza;

h. a defesa e a consolidação da democracia.

8. Para o Brasil, foram os seguintes os principais resultados da sua participação no  Mercosul:

a. o comércio do Brasil com o Mercosul aumentou dez vezes entre 1991 e 2012 enquanto  o comércio do Brasil com o mundo aumentou oito vezes;

b. oitenta e quatro por cento das exportações do Brasil para os países do Mercosul são produtos manufaturados enquanto apenas 53% de suas exportações para os Estados Unidos, 36% de suas exportações para a União Européia e  4% de suas exportações para a China são produtos manufaturados;

c. os países do Mercosul, em especial a Argentina,  absorveram  21%  das exportações totais de manufaturados brasileiros;

d. o Brasil teve superávits comerciais com todos os países do Mercosul nos últimos  dez anos enquanto tem tido déficit, nos últimos anos,  com os países altamente desenvolvidos;

e. em 2013, o saldo comercial do Brasil com o Mercosul foi mais do que o dobro do saldo total brasileiro, compensando os déficits comerciais com os Estados Unidos de 11 bilhões de dólares e com a União Européia, de 3 bilhões de dólares;

f. as empresas de capital brasileiro realizaram investimentos importantes nos países do Mercosul, que constituem  sua área natural de expansão inicial para o exterior;

g. os empréstimos feitos pelo BNDES para a realização de  obras de infraestrutura em países do Mercosul resultam em contratos com empresas brasileiras de engenharia e na exportação de bens e serviços pelo Brasil;

h. parte importante dos investimentos diretos estrangeiros que se realizam no Brasil tem como objetivo exportar para o conjunto de países que constituem o Mercosul;

i. a participação do Brasil no Mercosul permitiu contribuir para a consolidação e defesa da democracia na região e, portanto, para a estabilidade em nossa vizinhança imediata.

9. Apesar de todos os seus êxitos, o Mercosul é criticado diariamente pela mídia que logrou construir, em amplos setores da opinião pública, uma imagem negativa do Mercosul como sendo um acordo e uma organização fracassados,  que prejudicam os interesses brasileiros, e de uma associação “inconveniente” para o Brasil com países como a Argentina e a Venezuela.

10. Este antagonismo das grandes redes de televisão, dos jornais e das revistas de grande circulação decorre não de um exame dos fatos concretos, mas sim de uma posição ideológica que tem os seguintes fundamentos:

a. o Brasil deve dar prioridade em suas relações internacionais aos países desenvolvidos por serem eles grandes mercados, grandes fontes de capital e principais geradores de tecnologia;

b. o Brasil deve se associar aos países altamente desenvolvidos por serem estes democracias estáveis e defensores dos direitos humanos;

c. o Brasil deve se associar aos países desenvolvidos por razões de identidade cultural e afinidade ideológica.

11. Em contraste, os países subdesenvolvidos, nesse grupo incluídos os Estados da América do Sul, seriam pequenos mercados, sem capacidade de investir e sem dinamismo tecnológico; seriam Estados politicamente instáveis, periodicamente ditatoriais e violadores dos direitos humanos; seriam sociedades cultural e ideologicamente distintas da sociedade brasileira.

12. Assim, no campo econômico, o Brasil não deveria participar de organismos como o Mercosul ou de grupos de países tais como os BRICS e o IBAS (Forum India, Brasil e África do Sul).

13. No campo comercial, os órgãos da grande mídia diariamente argumentam que:

a. o Brasil deve se associar a esquemas como a Aliança do Pacífico que reuniria economias bem sucedidas e dinâmicas;

b. o Brasil tem de se integrar, com urgência, nas cadeias produtivas mundiais;

c. o Brasil está arriscado a ficar “isolado” dos grandes processos de negociação internacional em curso, tais como a TransPacific Partnership e o acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e a União Européia;

d. o Brasil deve assinar acordos de livre comércio com os países altamente desenvolvidos ainda que para tal tenha de abandonar o Mercosul ou tenha de adotar uma estratégia de diferentes velocidades, omitindo  que isto acarretaria o abandono,  na prática, do Mercosul.

14. A Aliança do Pacífico é constituída por quatro Estados que tem acordos de “livre comércio” com os Estados Unidos, quais sejam o México, a Colômbia, o Peru e o Chile.

15. Cada um desses quatro países assinou acordos de livre comércio com dezenas de outros Estados ou blocos de Estados, tais como a União Européia e a China, uma decorrência quase que necessária de terem negociado acordos com os Estados Unidos.

16. O comércio entre os países da Aliança do Pacifico é de pequena importância, inclusive por não terem esses países uma oferta exportável diversificada, já que não possuem parques industriais significativos (exceto o México, ainda que com características especiais decorrentes da presença das maquiladoras) e por serem competidores entre si no mercado internacional em muitos itens, em especial minérios.

17. Apesar de terem exibido taxas de crescimento relativamente altas nos últimos anos isto não significou desenvolvimento econômico propriamente dito, pois não se diversificaram suas estruturas produtivas e nem melhoraram os seus índices de concentração de renda e de riqueza.

18. Após assinar os acordos de “livre comércio” com os Estados Unidos, as importações do Chile, do Peru e da Colômbia, provenientes dos Estados Unidos, aumentaram muito mais do que suas exportações para os Estados Unidos e essas exportações, ao contrário do que se argumentava para  defender a celebração desses acordos, continuaram concentradas nos mesmos produtos tradicionais e não se diversificaram.

19. Ao contrário do que a grande mídia parece ignorar, voluntária ou involuntariamente, o Mercosul (e, portanto, o Brasil) tem acordos de livre comércio com o Chile, o Peru e a Colômbia em consequência dos quais já ocorreu a redução a zero da maior parte das tarifas bilaterais e, em 2019, o comércio entre o Mercosul (e o Brasil) e cada um desses países da Aliança do Pacifico será totalmente livre. 

20. Quanto à integração na economia internacional e nas cadeias produtivas mundiais, o fato de o comércio exterior brasileiro ter crescido de 108 bilhões de dólares em 2002 para alcançar 466 bilhões de dólares em 2012 e de o fluxo de investimentos diretos estrangeiros ter crescido de 26 bilhões de dólares em 2002 para alcançar 84 bilhões de dólares em 2012 revela que a economia brasileira está longe de estar isolada ou não integrada na economia mundial.

21. Por outro lado, cerca de 40% do comércio exterior brasileiro, em especial de produtos manufaturados, é um comércio intra-firma o que significa integração do parque industrial instalado no Brasil em cadeias produtivas mundiais das megaempresas multinacionais.

22. No caso dos produtos primários, como a soja e o minério de ferro, o Brasil se encontra integrado em cadeias produtivas ainda que isto ocorra na extremidade de menor valor agregado dos produtos finais dessas cadeias, isto é, o Brasil exporta produtos primários que são processados em países altamente desenvolvidos e o resultado deste processamento muitas vezes são produtos que vem a ser importados pelo Brasil, como é o caso de produtos siderúrgicos importados pelo Brasil da China.

23. A integração do Brasil em cadeias produtivas globais decorre de decisões das megaempresas multinacionais que alocam diferentes etapas ou segmentos dos processos produtivos de certos produtos em diferentes países devido a diferenças de custo de insumos, inclusive trabalho, de impostos e da existência de vantagens relativas de crédito, de tributação etc., e de localização geográfica, como é o caso do México em relação aos Estados Unidos e dos países da Europa Oriental em relação à Alemanha.

24. Certamente, o Brasil não poderia competir com outros países, em especial asiáticos, em termos de custos do trabalho, de benefícios tributários ou de legislação ambiental a não ser que fosse promovido um extraordinário retrocesso da legislação trabalhista e da legislação ambiental, para o que não há nenhuma possibilidade de apoio político na sociedade brasileira.

25. Não há dúvida de que os eventuais resultados das negociações entre  Estados Unidos e União Européia e das negociações da TranspacificPartnership  virão a afetar o Brasil. Porém, o fato inarredável de o Brasil não ter litoral no Oceano Pacífico torna extremamente difícil reivindicar sua participação nas negociações da TransPacific Partnership enquanto que não sendo o Brasil membro da União Européia (nem podendo ser por não estar situado naquele Continente) nem sendo parte dos Estados Unidos torna impossível participar das negociações entre a União Européia e os Estados Unidos, para o que, aliás, ninguém pensou em convidá-lo.

Um Acordo entre a União Européia e o Mercosul

26. Finalmente, a mídia, organizações empresariais e economistas defendem a negociação de um acordo entre a União Européia e o Mercosul como indispensável a uma melhor inserção do Brasil na economia internacional, o que, segundo esses advogados, permitiria a retomada de altas taxas de crescimento.

27. Seria interessante examinar as prováveis consequências de um acordo entre a União Européia e o Mercosul:

a. como a tarifa média para produtos industriais, cerca de 4%, na União Européia é muito mais baixa do que a tarifa média aplicada no Mercosul, que é de cerca de 12%, a União Européia teria no caso da eliminação recíproca da maior parte, digamos 90%, das tarifas muito maior vantagem do que o Brasil e o atual déficit brasileiro no comércio de produtos industriais com a Europa, que já é significativo e crônico, se agravaria ainda mais; o fato de o período de desgravação ser de quinze anos não afeta este argumento;

b. a redução e a eventual eliminação das tarifas de importação do Mercosul (inclusive do Brasil) não teria efeito positivo sobre o nível tecnológico atual da indústria instalada no Brasil pois, de forma geral, a importação de bens de capital já está livre de direitos quando não há similar nacional. As empresas produtoras de bens de capital, nacionais ou estrangeiras instaladas no Brasil, no caso de total liberalização do comércio sofreriam forte impacto e talvez desaparecessem;

c. como o nível tecnológico médio da indústria brasileira é inferior ao nível médio da indústria na União Européia, aquela não teria condições de concorrer nos mercados europeus nem nos mercados do próprio Mercosul com os produtos exportados pela indústria européia, agora livres de direitos aduaneiros;

d. um dos estímulos para os investimentos diretos industriais europeus nos países do Mercosul, que é “saltar a barreira tarifária” para produzir e competir no mercado interno do bloco,  deixaria de existir;

e. em consequência, o fluxo de investimentos diretos estrangeiros para a indústria no Mercosul (principalmente para o Brasil e a Argentina) diminuiria, com efeitos negativos para o emprego e para o próprio equilíbrio do balanço de pagamentos;

f. uma das consequências da eliminação de tarifas sobre as importações de produtos industriais europeus é que seria, possivelmente em muitos casos, melhor exportar para o mercado brasileiro do que continuar a produzir aqui e assim os investimentos produtivos hoje existentes poderiam regressar para seus países de origem ou não aumentar sua capacidade instalada no Mercosul;

g. as regras relativas a investimentos estrangeiros, propriedade intelectual, comércio de serviços, compras governamentais, defesa comercial se tornariam ainda mais favoráveis às megaempresas multinacionais do que se tornaram em decorrência da Rodada Uruguai, concluída em 1994, que levou à criação da Organização Mundial do Comércio;

h. a possibilidade dos Governos do Mercosul de implementarem, nacional ou regionalmente, políticas industriais, comerciais e tecnológicas se tornaria ainda menor, devido, como dizem os economistas, à redução ainda maior do policy space (espaço legal para a execução de políticas) em decorrência dos compromissos assumidos no eventual acordo;

i. a possibilidade de implementar políticas nacionais e regionais preferenciais para as empresas instaladas nos países do Mercosul nos setores de serviços, compras governamentais e outros deixaria de existir;

j. a eliminação das tarifas industriais decorrentes de um acordo União Européia/Mercosul eliminaria a preferência de que gozam hoje as empresas situadas no Mercosul em relação às empresas situadas fora do Mercosul e, portanto, para as empresas da União Européia, o Mercosul, cuja essência é a tarifa externa comum, deixaria de existir;

k. a assinatura de um acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul, ao privilegiar as empresas européias no comércio com o Mercosul (e com o Brasil) acarretaria imediatamente solicitações de nossos principais parceiros comerciais, isto é, a China, os Estados Unidos, o Japão para que negociássemos com eles acordos semelhantes, o que seria praticamente impossível de recusar;

l. a tarifa externa comum, essência de uma união aduaneira, que já teria  deixado de existir para as empresas da União Européia, deixaria de existir para os Estados Unidos, para o Japão, para  a China e para outros países o que significaria o fim do Mercosul, como união aduaneira e como instrumento de desenvolvimento;

m. a possibilidade de desenvolvimento industrial brasileiro a partir de empresas nacionais e estrangeiras instaladas no Brasil deixaria igualmente de existir;

n. os efeitos sobre o emprego seriam significativos, com sérias consequências sociais para países de elevado nível de urbanização, como a Argentina e o Brasil, já que o salário médio por trabalhador na indústria é várias vezes superior ao salário médio do trabalhador na agricultura e na mineração;

o. no que diz respeito ao comércio de produtos agrícolas, altamente regulamentado na União Européia, que considera a proteção à sua agricultura uma questão estratégica, o acordo não levaria a uma liberalização geral do comércio e do acesso dos produtos agrícolas do Mercosul (e brasileiros) aos mercados europeus;

p. a União Européia estaria disposta a conceder ao Mercosul tão somente quotas de importação, livres de direitos, para  determinados produtos agrícolas, o que não significa necessariamente um aumento das receitas brasileiras (e dos outros países do Mercosul) com a exportação desses produtos;

q. segundo a informação disponível, o volume de cada uma dessas quotas oferecidas pela União Européia poderia ser, inclusive, inferior ao volume atualmente exportado pelos países do Mercosul;

r. esta oferta européia beneficiaria em principio não o Estado brasileiro em termos de aumento das receitas de exportação pois não aumentariam os volumes exportados enquanto que os exportadores de produtos agrícolas se beneficiariam apenas na hipótese de serem mantidos os preços pagos pelos importadores. 

28. A eventual assinatura de um acordo entre a União Européia e o Mercosul tornaria impossíveis negociações futuras para a ampliação das quotas de importação eventualmente concedidas pela Europa já que a União Européia já teria atingido, ao obter a eliminação de tarifas para 90% das posições tarifárias industriais, o seu objetivo estratégico que é a abertura do mercado brasileiro (e do Mercosul) para suas exportações, e ao mesmo tempo manter sua política agrícola protecionista e a sobrevivência de sua agricultura subsidiada e ineficiente.

29. O desenvolvimento econômico e social brasileiro depende do fortalecimento de seu setor industrial enquanto que a defesa dos interesses brasileiros, políticos e econômicos, na esfera internacional, cada vez mais competitiva e conflituosa, dependem do fortalecimento do Mercosul, etapa indispensável para a integração da América do Sul.

30. O eventual acordo União Européia/Mercosul será o início do fim do Mercosul e o fim da possibilidade de desenvolvimento autônomo e soberano brasileiro e do objetivo estratégico brasileiro de construir um bloco econômico e político  na América do Sul, próspero, democrático e soberano.

ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO: Peru seguirá liderando o crescimento na América Latina.

BBVA: Peru seguirá liderando o crescimento na América Latina

http://americaeconomiabrasil.com.br/sites/brasil.americaeconomia.com/files/imagecache/foto_nota/sites/default/files/americalatina_180.jpg
A economia peruana crescerá 5,6% em 2014; enquanto a paraguaia terá 5,3%; Colômbia se expandirá 4,7%; Chile 4,0%, segundo as previsões da BBVA Research
Segundo o informativo Situação Latino-americana, o ciclo econômico global melhora e se prevê que o crescimento da economia mundial aumentará de 2,9% em 2013 e 3,6% em 2014Lima– Peru seguirá liderando o crescimento na região em 2014 com uma expansão de 5,6%, seguido do Paraguai, Colômbia, Chile, por isso a região se apoiará nos países andinos, apontou BBVA Research.
A economia peruana crescerá 5,6% em 2014; enquanto a paraguaia terá 5,3%; Colômbia se expandirá 4,7%; Chile 4,0%, segundo as previsões apresentadas pelo economista-chefe da BBVA Research para a América do Sul, Juan Ruiz.
Segundo o informativo Situação Latino-americana, o ciclo econômico global melhora e se prevê que o crescimento da economia mundial aumentará de 2,9% em 2013 e 3,6% em 2014, com certa desaceleração nas economias emergentes e recuperação nas desenvolvidas.
“No geral, em 2014, esperamos que atividade se acelere até 3,1% na região, à medida que México deixe para trás os choques temporários que o afetou na primeira metade do ano e que se recupere gradualmente a demanda externa da região, consoante com o crescimento global”, disse Ruiz.
“As tensões financeiras diminuem na América Latina e se estabilizam os fluxos de capitais diante de um entorno exterior complexo”, exprimiu.
Nesse contexto, estimou que as expectativas de crescimento na América Latina, que se calcula em 2,4% em 2013.
O analista previu que, nos meses seguintes, continuará a volatilidade nos mercados financeiros, que esperam as ações da Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), embora opinasse que a maior parte do efeito dessa retirada de estímulos monetários já se teria incorporado nos preços dos ativos na região, que estariam agora mais próximos de seus valores fundamentais.
“Por isso, esperamos somente uma leve desvalorização da taxa de câmbio nos países da região”, antecipou.
Embora mencionasse que a principal exceção será o Brasil, onde a desvalorização em 2014 seria significativa e poderia arrastar também o câmbio no Uruguai.
O informativo também incorpora as perspectivas do BBVA Research para Aliança do Pacífico.
Ruiz disse que representa um acordo que aposta na integração econômica em várias frentes, não somente comercial, e que cada vez mais se deve ver a Aliança como uma área econômica, e não como um conjunto de países.
“Visto em seu conjunto, a Aliança do Pacífico constitui agora a sexta maior economia mundial, somente atrás da Alemanha e na frente de Rússia e Brasil, e, mais importante ainda, será a quarta economia que mais contribuirá para o crescimento mundial nos próximos dez anos, somente atrás da China, Índia e Estados Unidos”, disse.
De acordo com o informativo Situação América Latina, a região está, em geral, preparada para suportar novos choques do exterior, mas é importante manter o espaço de manobra para as políticas contra cíclicas.
Também comentou que a inflação na região seguirá controlada e alinhada com as metas de inflação dos bancos centrais, com exceção no Uruguai, onde se manterá acima da meta definida pelo banco central.
“Essa heterogeneidade nas pressões inflacionárias tem condicionado uma resposta diferente dos bancos centrais diante das turbulências nos mercados financeiros e previsões diferentes sobre o futuro curso da política monetária na região”, explicou.
Mais adiantes, manifestou, esperamos um maior endurecimento monetário no Brasil e Uruguai, afetados por pressões de altas nos preços, bem como um aumento dos tipos de juros na Colômbia, à medida que se recupere o crescimento.
Por outro lado, acrescentou que os tipos de vão se manter estáveis no México e Peru, enquanto que se espera uma tendência de queda no Chile, devido à desaceleração econômica.


Demanda global por minério cai e desacelera economia no Peru
Depois de crescer 6,4% por ano em média durante a última década, crescimento tem queda repentina no país, enquanto consumo interno continua em alta
NYT - William Neuman, de Lima
NYT
Da janela do escritório, Henrik Kristensen, chefe-executivo da empresa que opera o maior porto do Peru, ainda vê filas de automóveis Kia recém-chegados da Coreia do Sul e contêineres repletos de itens importados, como aparelhos de televisão e roupas de marca enviadas para o número crescente de shoppings que servem a nova classe média do país. "Este é o Peru", afirmou. "Quando você vai aos shoppings, eles estão cheios de gente. Esse é um bom indicador de que as pessoas realmente estão gastando dinheiro".
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NYT
Consumidores em busca de carros no Peru: sinal de demanda interna em alta
A economia peruana cresceu em média 6,4 por cento ao ano de 2002 a 2012, levando-se em conta a inflação, de acordo com dados do governo. Esse foi um período importante de expansão que tornou o país uma das estrelas da economia mundial. Porém, o crescimento parece estar sofrendo uma desaceleração repentina por aqui e a razão pode ser vista com clareza pouco além da janela de Kristensen, sob o céu eternamente cinza do inverno em Lima.
Na Doca 5B, navios são carregados com as riquezas minerais do Peru, incluindo minério de cobre, chumbo e zinco – as matérias primas que nutriram o boom econômico peruano, com o aumento do preço nos últimos anos. Porém, nos primeiros seis meses deste ano, os carregamentos de minérios que passam pelo porto diminuíram 12% em termos de peso, de acordo com a APM Terminals, a empresa de Kristensen.
O resultado decrescente é causado por uma queda na demanda da economia mundial em crise e pela desaceleração econômica da China, um dos maiores parceiros comerciais do Peru. Esses fatores também levaram a uma queda no valor dos minérios, afastando os ventos que enchiam as velas da economia peruana.
Esse revés em meio ao boom deu vazão a uma onda de angústia nacional, com manchetes e reportagens alarmistas sobre a economia em diversos jornais e programas de TV. As manchetes se queixam do desequilíbrio crescente da balança comercial, à medida que o valor de minérios e outros bens de exportação – incluindo produtos agrícolas e roupas – cai e o volume de importações cresce.
Miguel Castilla, ministro de finanças e economia, afirmou que espera que a economia cresça entre 5,5% e 6% este ano. Embora essa seja uma previsão menor que as anteriores, ela manteria o Peru como um das economias que mais crescem na América Latina. Até mesmo os economistas mais céticos preveem que a economia peruana cresça em torno de 5% este ano, um ritmo que seria motivo de comemoração em muitos outros países.
Confiança
Todavia, no Peru essa previsão está sendo tratada como algo que se assemelha a um desastre.
"Cresça por uma década a um ritmo próximo dos 6% e você acaba se acostumando", afirmou Gustavo Yamada, reitor de economia da Universidade do Pacífico, em Lima. Yamada afirmou que esperava que o crescimento no Peru se estabilizasse entre 4% e 5% ao longo dos próximos anos. Segundo Yamada, "isso cria um cenário em que as pessoas se perguntam se realmente seremos os próximos tigres incas, e isso é desapontador".
Pesquisas mostram que a confiança dos consumidores caiu no ano passado e uma pesquisa feita pelo Banco Central Peruano em junho mostrou que a confiança dos investidores atingiu o nível mais baixo dos últimos dois anos. "Nós nos acostumamos com um período de crescimento constante e nos esquecemos que existem ciclos", afirmou Castilla, o ministro da economia.
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Demanda fraca por minério na China e em países em crise atrapalha crescimento no Peru
A economia peruana é um misto de pontos fortes e fracos. O país possui reservas nacionais robustas, um grande fundo de segurança que pode ser utilizado como estímulo econômico no caso de uma crise, além de uma dívida pública reduzida.
A pobreza no Peru caiu para menos da metade nos últimos anos, passando de 59% da população em 2004, para 26% no ano passado, de acordo com dados do governo. Além disso, milhões de pessoas passaram a fazer parte da classe média, que o Banco Interamericano de Desenvolvimento estima que tenha dobrado de tamanho entre 2007 e 2012 e agora inclui cerca de metade das famílias peruanas.
Contudo, a nova prosperidade é distribuída de forma desigual e se concentra das cidades costeiras. Mais da metade das áreas rurais ainda é assolada pela pobreza, especialmente nos Andes e na bacia do Amazonas. Lima também é lar de favelas enormes.
A economia do Peru depende em grande parte da mineração. O país é o terceiro maior produtor mundial de cobre e prata e o sexto maior produtor de ouro, de acordo com o U.S. Geological Survey. Além disso, a despeito de falar de diversificação, o presidente Ollanta Humala está concentrando suas esperanças de crescimento de longo prazo na atividade mineradora.
Diversas minas de cobre recém-construídas começarão a produzir ao longo dos próximos anos, o que poderia dobrar a capacidade de produção do país. Porém, a mineração de ouro, responsável por boa parte do valor das exportações peruanas, decaiu, à medida que as minas existentes se esgotaram e protestos interromperam a criação de um novo projeto de mineração de ouro, conhecido como Conga, na região de Cajamarca.
O volume total das exportações minerais do Peru na primeira metade deste ano foi praticamente igual à do mesmo período de 2012, mas por conta dos preços mais baixos, o valor dos carregamentos caiu mais de 15%, de acordo com a Associação dos Exportadores, um grupo comercial peruano.
Crise política
Tudo isso está ocorrendo em um momento complicado para Humala, cuja aprovação do governo caiu mais de 50% no início deste ano, chegando a 33% em uma pesquisa de opinião recente. Passado da metade de seu mandato de quatro anos, Humala é visto por muitos como um presidente branco que luta para inspirar e parece migrar de uma crise para outra.
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Reuters
Ollanta Humala, presidente do Peru, passa por momento de baixo índice de aprovação
Ele foi criticado pela apresentação carrancuda no discurso anual realizado no Dia da Independência, em 28 de julho, quando o presidente peruano se dirige ao povo. Diversos comentaristas afirmaram que ele perdeu uma boa oportunidade de fazer unir o país e passar uma impressão otimista em relação à economia nacional.
Humala falou recentemente ao país que "o mundo está enfrentando uma tremenda crise mundial", de acordo com reportagens de meios de comunicação nacionais. "E a crise chegou ao Peru."
Humala, ex-oficial do exército, começou a carreira política na esquerda, seguindo o modelo de Hugo Chávez, o feroz ex-presidente da Venezuela. Porém, para ganhar a eleição em 2011, ele adotou uma postura mais ao centro e jurou manter a trajetória econômica do país.
Ele também prometeu trazer os benefícios do crescimento econômico peruano aos milhões que haviam sido deixados de fora. No entanto, embora tenha criado ou expandido diversos programas sociais, muitos de seus antigos seguidores de esquerda se sentiram traídos. Uma nova lei do serviço civil que inclui a avaliação de funcionários públicos causou protestos enfurecidos por parte dos sindicatos em julho.
Embora o empresariado tenha ficado aliviado com o fato de Humala não ter feito grandes mudanças na política econômica, sua confiança no presidente parece limitada. Quando o governo peruano afirmou em abril que estava pensando em comprar parte das ações das operações peruanas da espanhola Repsol, os empresários protestaram e o governo voltou atrás.
Carlos González, economista da Associação de Exportadores, afirmou que a desaceleração da economia peruana estava sendo injustamente criticada, mas acrescentou que o Peru teria de agir com mais ímpeto para manter o crescimento e atrair investidores à medida que a situação muda no restante do mundo. "Éramos a menina mais bonita do bairro, e poderíamos conseguir o melhor namorado", afirmou. "Parece que nosso momento passou."